[Sim, texto descaradamente inspirado no “COMO ME F* NO SHOW DO LOS HERMANOS” do Adolar Gangorra, e em experiências amorosas traumáticas e reais]
Frustrações amorosas acontecem todos os dias, em todos os lugares da terra. Frustrações ideológicas, nem se fale. Partidos, igrejas, chapas sindicais e ONGs são rachadas e criadas todos os dias. Mas a fusão de duas frustrações juntas podem causar dores de cabeça seríssimas.
Pois bem, cresci em um ambiente totalmente laico. Meus pais não davam a mínima pra religião. Até que um dia eu conheci a igreja presbiteriana. Foi maneiraço, me tornei um verdadeiro calvinista de 5 pontas, decorei a confissão de westminister de trás pra frente até em coreano.
Mas sabe como é, vai passando o tempo de conversão, e com uns seis meses a curiosidade da diversidade protestante do nosso país era algo que muito me intrigava. Aquela galera animada, descolada, que parecia ter saído de algum seriado adolescente era algo que definitivamente me deixava curioso. Até porque nunca corri atrás dessas coisas, nem nada. Sabia por cima de uns cantores com sobrenome de ator de filmes históricos para o Brasil, mas não recomendáveis para crianças. E também de um Irlandês sem sotaque que cantava coisas sobre fogo, noiva e tudo mais. Mas mais cedo ou mais tarde a gente vai conhecendo mais a fundo esta verdadeira subcultura.
E pode ser da pior forma possível.
Em viagem de férias por Belo Horizonte decido conhecer uma igreja que um primo meu era membro e grande admirador. Repleto de bandeiras, musicas animadinhas e garotas cantando como a Sandy. Agora não lembro o nome, tinha algo a ver com Lagoa… Mas o que não esqueci foi aquela loira. Não só pela beleza como pelo que ela me proporcionou. Pois bem, está com tempo?
Cheguei em BH, belíssima cidade, queria conhecer tudo, e pedi para meu primo me apresentar cada parte da cidade. E ele foi me mostrando, enquanto me levava pra conhecer a igreja dele. Enfim, cheguei. E me surge uma loira de simpatia ímpar, me recepcionando. Aquele sorriso, aquela simpatia, e pelo visto um comprometimento com Deus exemplar… Fechou, parceiro, vamos conhecer, quem sabe esta viagem não possa me trazer coisas melhores do que eu imagino?
Pois bem, ela conversa comigo, me diz seu nome. Simpática esta Gabriela! E conversamos sobre música, e comecei a comentar sobre João Alexandre, Sérgio Pimenta, Carlinhos Veiga, Stenio Marcius, VPC… E ela me responde com um “Não conheço nada disto, vaso! Tem certeza que isto é gospel? Porque desculpa, servo do Senhor que tem compromisso na obra não ouve música secular, é tudo consagrado ao diabo, sabia?”. Ao ouvir isto, achei melhor nem comentar sobre Bossa Nova e umas bandas de Rock que gosto. Mas de fato estranho ela não conhecer, então perguntei o que ela gostava.
-Ai, Fernandinho, Toque no Altar, Trazendo a Arca, e claro, né, Diante do Trono! Ana Paula Valadão é uma benção!!
Lembrei na hora de uns filmes antigaços que meu pai via, de um tal de Jece Valadão, ele era sempre o cafajestão dos filmes!
-Tem parentesco com o Jece Valadão, que era um ícone da cafajestagem no cinema nac…
Nem esperou eu terminar de perguntar.
-Está maluco? Isso é pergunta que se faça? Eles tem unção, unção!!!!
-Perdão, só me lembrei de uns filmes que meu…
-Tem “meu” não!!!
-Calma!
-Ok, perdão, irmão… continuando, eu gosto muito de David Quinlan, conhece?
-Só de nome…
-Poxa Irmão, se converte! Vai ter show dele semana que vem, ainda vai estar por aqui?
-Sim.
-Então vamos! Eu tenho ingresso aqui, fica com este, sábado que vem, ok? Aí a gente conversa mais, beijo!
Ufa! Quase me dei mal com a mocinha, mas pelo visto ainda tenho chances de conhecê-la melhor… Sábado é o show, segunda feira é meu voo, posso terminar estas férias com uma baita amizade, ou algo além, quem sabe?
Pois bem, chega o grande dia, e chego no lugar do show… Ou ministração, como eles preferem falar. Quando perguntei sobre isso, falou que ia ter muita dança pra Deus, mas todo mundo se ofendeu quando perguntei se ia ser uma balada… Pessoal confuso! Mas enfim, depois de passar por um mar de roupas xadrez e camisas com mensagens pseudo-descoladas, finalmente encontro a Gabriela!
Confesso que rolou uma conversinha muito estranha. Era uma conversa sobre ter unção, autoridade espiritual para discipular pessoas nas batalhas espirituais para conquistar o shú profético ou algo do tipo, sei lá. A única frase que me lembro com clareza e que me fez ficar bastante assustado, foi quando ela falou que abandonou o namoro.
-Abandonou o namorado, você quis dizer?
-Nãããão, amigo, namoro, eu não namoro mais.
-porque?
-porque não tá na Bíblia, ora essa. Pratico Corte.
-Mas corte tá na Bíblia? Onde tá? o que é isso?
-Não está.
-hm….
-Então, é um processo em que a gente chega até a pessoa amada, com atitudes sinalizando amor, interesse em estar junto. Aí o futuro casal fica em oração, até a hora que for da vontade de Deus de casar!
-Mas não é um namoro?
-Não!
-Mas atitudes que você falou denotam um namoro.. abraços, mãos dadas, beijo…
–Beijo? Está maluco??? que tipo de crente você é? Vigia irmão! Isso é defraudação!!
-Como assim?
-Você não é espiritual mesmo, viu.
É, acho que perdi até a amizade, devo ter virado o que o Gondim virou pro pessoal da minha igreja. Enfim, começa o show! Começo a ver um monte de marmanjo barbado pulando e gritando dizendo que é noiva, que quer ter um romance. Romance? Tem gente se perdendo aí. Pelo que eu entendi a galera quer ter um romance com DEUS? O Rei dos Reis, Senhor dos Senhores virou um namoradinho de novela das oito? Peraí, malandrage! Ok, aí me surge um trenzinho, mas que maravilha! A matinê da balada tocando trem da alegria agora? Ok, devo estar rabugento, vamos dar um desconto.
Aí o David Quinlan começa a falar umas coisas bacanas, e coerentes sobre as Escrituras! Gostei de ver! Lembro até como ele terminou:
-Eu amo a Palavra de Deus! Quem aqui também ama ler as Escrituras?
Daí surge um silêncio de tal forma que conseguia ouvir minha respiração, o que fez com que ele perguntasse novamente:
-Poxa, igreja, é a palavra de Deus!!!!
Aí sim, a gritaria retorna! Começa outra música, e denovo o trenzinho passa. E me atropela. Senti o sapateado apostólico de todo mundo, inclusive da Gabriela. Que aliás, foi a última vez que eu a vi. Aliás, foi a última cena que eu me recordo, só me lembro de ter acordado na casa do meu primo, que me explicou detalhadamente o ocorrido. Lá estava eu, pisoteado, esmagado e com fama de defraudador porque não entendi que raio era cortar a autoridade apostólica ou coisa do tipo.
Eu hein, eu tô é com medo dessa galera. Fui!