Não tiveram tempo para ver

Samuel era um rapaz como vários outros por aí. Filho único, cristão perseverante, que cresceu espiritualmente com muita base vinda da sua mãe. Inteligente, tirava boas notas. Mas algo o incomodava, mais precisamente com sua comunidade de fé. Sim, com a igreja onde ele era parte.

Como disse agora, o crescimento espiritual veio através do discipulado em casa – unicamente por sua mãe. Porque? O pai de Samuel não era o que costumamos chamar de evangélico, ou ‘crente‘. Era como milhares de outros brasileiros: o tal do católico não praticante. Um daqueles caras que você vê, conversa, e, mesmo podendo discordar de sua postura conservadora, e as vezes até extremista em alguns pontos, você não poderia negar: este cidadão é um exemplo de integridade e honestidade. Aquele tipo de cara que nem a BIC mais banal ele levava do serviço. Considerava um roubo.

E o que isto tem a ver com o incômodo de Samuel? Simples, meus caros. Com esta “grave falha” em não ter um pai comungando da mesma fé, Samuel não tinha a patente espiritual, ou um capital místico que lhe concedesse moral ou qualquer outro tipo de consideração naquele grupo de pessoas. Talvez existam nestas igrejas castas inferiores, destinadas a pessoas que não se enturmam com a panelinha mais popular, a pessoas que não procuram modos de vomitar sua espiritualidade para todas as outras pessoas pelo mundo de forma forçada, pessoas que não tem família de líderes na igreja, e talvez, na última escala, pessoas que não tem família de crentes.

Daí, uns acusam falta de fé, falta de joelho no chão. Outros, falam que este pai não é evangelizado. Outros até questionam o comprometimento de Samuel com Deus. Afinal, ele não cresceu num lar totalmente cristão! Não deve ter base, já que gente, se seu pai não é pastor, imagina não crente? Que escória do cristianismo este rapaz deve ser! Um herege, isto sim!

Só que muitos destes acusadores, e questionadores não conhecem a história dos seus pais. Não conhecem a história de uma mãe que andou afastada do Evangelho, e acabou se relacionando com um rapaz que viria a proibir toda e qualquer manifestação religiosa debaixo do mesmo teto.
Só que esta gente não sabe do difícil retorno à Cristo desta mulher que pra orar, tinha que orar no banheiro, trancada, e no mais absoluto silêncio.
Só que esta gente não sabe, que pra ir à igreja, esta mulher tinha que ir na primeira igreja que estivesse aberta em horário comercial, já que tinha de ir escondida do marido opressor.
Só que esta gente não sabe o quanto esta mulher orou para ter um filho, não sabe o quanto de campanhas de oração que ela participou, não sabe quantos filhos ela perdeu, e não sabe que este Samuel é fruto de uma verdadeira entrega de um caso quase perdido.
Só que muitos destes acusadores, nem se importaram em visitar esta família, em conhecer este casal e este jovem. Estes acusadores não pararam para pensar em como Deus transformou, e ainda está transformando este agora senhor.

Muitos destes, ao perder seu precioso tempo ao menosprezar uma família, ao considerá-la inferior ou inadequada ao convívio, não conseguiram ver a transformação gradativa de uma pessoa. De um cidadão que odiava e não suportava cristãos, a um senhor que permite, e em várias vezes até incentiva mulher e filho a irem à igreja. Não tiveram tempo para perceber a mudança de conduta, de ética, e de ponto de vista, que um comportamento cauteloso e uma vida de entrega e oração pode proporcionar.

Não tiveram tempo para perceber que este homem, mesmo não professando uma fé protestante, ou evangélica, ou gospel, ou o que preferir chamar, tem mais ética e mais integridade que muito sujeito dito pastor, que aceita propina de político para usar suas ovelhas de brinquedo eleitoral; tem mais integridade que muito líder que aceita mudar sua pregação para encher banco.
Muitos destes acusadores não tiveram tempo para ver isto. Estavam ocupados demais em sua rotina entre as quatro paredes de uma instituição eclesiástica. Nesta ocupação , deixou até de aprender muita coisa com este pobre “não crente”. Que tem mais ética, integridade, e ouso afirmar, reflete mais a Cristo do que muito crente arrogante que só se preocupa com a aparência e com o aqui e o agora.

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