Introdução ao Livro de Juízes – O círculo vicioso
Ao fnal da vida de Josué, quando houve a renovação da aliança com o povo em Siquém, os hebreus se comprometeram em obedecer todos os preceitos de Javé, e jamais trocariam ao Senhor por outros deuses. Porém, da mesma maneira registrada em Deuteronômio 30, o texto de Josué 24:16-20 nos conta que havia uma desconfiança quanto à firmeza do compromisso assumido pelos israelitas.
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Ao final da vida de Josué, quando houve a renovação da aliança com o povo em Siquém, os hebreus se comprometeram em obedecer todos os preceitos de Javé, e jamais trocariam ao Senhor por outros deuses. Porém, da mesma maneira registrada em Deuteronômio 30, o texto de Josué 24:16-20 nos conta que havia uma desconfiança quanto à firmeza do compromisso assumido pelos israelitas.
O povo de Israel não expulsara todos os antigos povos da terra de Canaã, e, além disso, eles ainda aprendiam como viver como uma nação unificada, e não mais como um grupo de tribos, ou clãs.
Este intervalo entre o período da entrada do povo israelita em Canaã até o estabelecimento de uma monarquia é conhecido como período dos Juízes, que dá nome ao livro objeto deste estudo. Foi um período difícil, onde Javé enviou libertadores, ou juízes, ao povo quando a extinção estava próxima.
A expressão recorrente no livro de Juízes, “Naquela época não havia rei em Israel” (17:6; 18:1; 19:1; 21:25), leva alguns estudiosos a datarem a composição do livro no período monárquico, embora existam algumas narrativas que parecem ser contemporâneas aos eventos registrados. O livro está estruturado de acordo com a teologia deuteronomista, ou seja, a fidelidade à aliança, já estudada em outras ocasiões.
Com isso entendemos que o livro foi composto durante vários séculos, e provavelmente compilado pelo profeta Samuel. Isso não representa nenhum impedimento em relação à inspiração bíblica, pois o Livro de Salmos foi composto sob as mesmas circunstâncias.
O período dos juízes está situado na Idade de Ferro I dos arqueólogos, pois os relatos no livro citam carros com ar de ferro dos cananeus (1:19; 4:3) e de Sísera (4:13). A soma total dos períodos de guerras e descanso relacionados em juizes é de 410 anos. Porém, este número é alto e não corresponde à arqueologia, logo alguns estudiosos supoem que alguns dos relatos do livro são sobrepostos (cf. 10:7) e não uma ocorrência em sequência, embora Juízes 11:26 afirme que os israelitas estavam em Canaã há pelo menos 300 anos.
Durante este período houve muitos conflitos em torno das principais rotas comerciais e portos da região, porém o narrador de Juízes parece desconsiderar este contexto, pois está mais interessado nos aspectos teológicos da história, daí a menção à teologia deuteronomista sobre o livro de Juízes. Estes conflitos levaram ao desgaste das nações mais poderosas do período, tais como os egípcios e os assírios. Isso abriu um vácuo de poder no antigo Oriente Médio, permitindo que povos menos influentes como os filisteus, pudessem exercer o controle da região, levando aos conflitos com o povo hebreu.
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O livro está estruturado no relato cíclico conforme apresentado na figura 01. O livro pode ser dividido literariamente da seguinte maneira:
- Fracasso na expulsão dos cananeus – 1:1 – 2:5
- Ciclo de apostasia – 2:6 – 16:31
- Depravação total do povo de Israel – 17:1 – 21:25
A primeira parte do livro demonstra a incapacidade dos hebreus de expulsarem todos os povos cananeus. Como consequência, Israel foi influenciado por suas práticas pagãs que o levou à apostasia.
A segunda parte do livro destaca o ciclo vicioso do pecado do povo ao livramento de Javé. É importante notar que, neste ciclo, não há nenhuma menção ao arrependimento. Há 6 ciclos completos de pecado e livramento descritos entre os capítulos 3 e 16. Cada ciclo começa com a seguinte fórmula: “os israelitas fizeram o que o Senhor reprova”, conforme vemos em 2:11; 3:7; 4:1; 6:1; 10:6; 13:1.
A terceira parte encerra o livro demonstrando que, a despeito de todos estes ciclos e livramentos de Javé, o povo não foi capaz de estabelecer um padrão social justo, ético e moral. O livro termina com um relato deprimente e uma nota melancólica sobre a opção pela monarquia, que, no pensamento do livro de Juízes, não seria um sistema opressor, mas facilitador para que o povo fizesse aquilo que Deus aprova.
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O livro de Juízes trata dos seguintes princípios:
- Os ciclos do período dos juízes
- A desobediência do povo à aliança
- Justiça e graça de Deus
- O papel do Espírito do Senhor nos juízes
- Provisão divina ao envir os libertadores
Os relatos de Juízes explicam os acontecimentos entre a entrada do povo de Israel em Canaã e a monarquia davídica. Séculos de apostasia terminaram com o estabelecimento da monarquia. As narrativas dos juízes tentam explicar as razões do povo não ter desfrutado das bênçãos da aliança. Ou seja, este problema não fora causado por Javé, mas pela deslealdade do povo para com a aliança.
As narrativas também mostram que a injustiça era o resultado da desobediência dos israelitas, que, a princípio, parecem fazer menção à monarquia, uma vez que a liderança tribal não foi capaz de manter a união do povo com Javé. Este contraste é percebido nos relatos do livro dos Reis, onde o autor afirma que Davi “fizera o que o Senhor aprova” (I Rs. 15:5).
Liderança carismática
Os líderes, também chamados de juízes, não eram eleitos, nem herdavam suas funções, mas espontaneamente se apresentavam conforme a necessidade, por isso, podemos dizer que Javé os levantara para esta função. Embora tenham a nomenclatura de juiz, sua função primordial era militar, mas podemos inferir que a justiça que buscavam era com base na libertação dos israelitas da opressão sofrida por outros povos.
Também não há menção de qualquer função espiritual por parte dos juízes, ou seja, eles não tinham ligação com o tabernáculo, nem incentivavam o povo a voltarem-se para Javé. Os juízes nem mesmo tinham um padrão ético-moral elevado; em várias ocasiões conferimos que suas ações, muitas vezes, não condizia com a lei da aliança: Gideão adorou o manto sacerdotal que fizera (8:27), Jefté sacrificou a própria filha (11:30-40) e Sansão se envolveu com mulheres filistéias (caps. 14-16). A intenção do texto não é mostrá-los como modelos espirituais, mas destacar que a libertação foi possível, pois Deus estava com eles. O fato de muitas vezes agirem sem ética não significa que não tenham tido fé, e embora a Bíblia não expresse aprovação por seus atos a libertação foi possível, pois a tarefa do juiz era libertar o povo, mediante a capacitação dada por Javé.
Espírito do Senhor
O Espírito do Senhor tem um papel fundamental no livro de juízes, pois representa o sinal de que Javé estava com eles. Não podemos presumir que os antigos hebreus tivessem a mesma compreensão que temos do Espírito Santo como pessoa da Trindade, pois este conceito se apresentou a nós como consequência da revelação progressiva de Deus na história. Outro ponto que merece destaque é a compreensão entre batismo do Espírito Santo e capacitação pelo Espírito do Senhor. A capacitação pelo Espírito não implica em regeneração de vida como o NT ensina, pois servia apenas a um propósito muito específico, e, após o cumprimento da missão deixava o juiz. O Espírito dava autoridade momentânea para o juiz convocar os exércitos para as batalhas, uma ez que não havia uma autoridade central para isso. Logo, quando alguém conseguia reunir o povo para uma missão específica ficava claro para todos que Javé estava com ele.
Apostasia
Os relatos de Josué e juízes nos deixam em dúvida sobre como os israelitas puderam desprezar tudo que Javé fizera por eles anteriormente. Porém devemos destacar que o monoteísmo era exclusividade de Israel, que se iniciou no Sinai. O monoteísmo era uma visão radical da divindade, pois não estava subordinado a nada e ninguém, além de ser autônomo e não ser manipulado por nenhum tipo de ritual de culto.
Nas religiões do Oriente Médio Antigo os deuses eram contatados por rituais de fertilidade e sacrifícios humanos e se manifestavam nos fenômenos naturais. Não tinham um padrão ético elevado, pois refletiam a própria natureza humana, além de dependerem dos humanos para a realização de suas tarefas; logo isso gerava a manipulação da divindade.
O povo de Israel era um ajuntamento de clãs e não estava preparado para fazer um ajuste tão drástico em sua forma de pensar e se relacionar com a divindade, por isso foram muito influenciados pelo paganismo cananeu, chegando a tratar Javé como uma das divindades pagãs cananéia, conforme os profetas indicaram muitos séculos depois.
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