#ScholeQueÉ – Introdução ao Números – Com quantos escravos se faz uma nação? #005

#ScholeQueÉ – Introdução ao Números – Com quantos escravos se faz uma nação? #005
Será que o livro de Números deve ser conhecido apenas pelos recenseamentos que foram realizados pelo povo de Israel? O que este livro pode nos ensinar sobre Javé e o povo hebreu?

Descubra neste post que os recenseamentos, apesar de sua importância social no estabelecimento do povo de Israel, ocupam um lugar secundário naquilo que o autor quis nos transmitir na caminhada do povo hebreu pelo deserto.

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O livro de Números registra a peregrinação do povo de Israel no deserto, após o Êxodo do Egito rumo à Terra Prometida, tal qual um diário dos primeiros dias da aliança entre Javé e os hebreus. O nome hebraico do livro é “No deserto”, tirado do primeiro versículo. O livro destaca a rebelião do povo e as provações durante a jornada no deserto. O nome “Números” vem da tradução grega do Antigo Testamento referente ao recenseamento do povo mencionados nos capítulos 1 e 26.

Como acontece em Levítico, a expressão “O Senhor falou a Moisés”, aparece em todos os capítulos do livro, o que leva os estudiosos a presumirem a autoria mosaica. Porém, alguns trechos narrando Moisés em terceira pessoa (Nm. 12:3; 15:22-23) sugerem que houve alguma edição posterior à morte de Moisés. Os trechos legislativos de Números procedem de Moisés durante os 38 anos no deserto (Nm. 33:38; Dt. 1:3), mas não se sabe ao certo se ele transcreveu as palavras de Deus, ou se um escriba o ajudou. Parece razoável supor que o Pentateuco foi compilado num livro de cinco volumes durante o tempo de Josué (Js. 24:31) e de Samuel (1 Sm. 3:19-21).

Ao que parece Moisés redigiu um diário onde anotava os eventos importantes (Nm. 33:2), o que torna o livro de Números histórico, com certa característica pessoal.

A narrativa da peregrinação pelo deserto abrange três momentos distintos:

  • No Sinai – 1:1 a 12:16 – Desde o término do tabernáculo até o aparecimento da nuvem que os guiaria
  • Em Cades – 13:1 a 22:1 – Os 38 anos de peregrinação pelo deserto. Primeira geração de hebreus após o Êxodo que vai do Sinai a Cades.
  • Em Moabe – 22:2 a 36:13 – Os seis meses finais dos 38 anos de peregrinação. Segunda geração pós êxodo que vai das planícies de Cades às planícies de Moabe.

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Estrutura de Números

 A divisão literária do livro de Números é a mais dificil do Antigo Testamento devido aos seus diversos padrões e formas literárias. Nem sempre é possível estabelecer uma unidade coesa para identificação da ordem e estrutura. O livro possuí, além dos amplos trechos narrativos, muitas outras formas literárias, tais como:

  • Listas de censos – 1:5-46; 3:14-39; 4:34-49; 26:5-51
  • Manual de organização do acampamento – 2:1-31
  • Regras religiosas – 3:40 a 4:33; 8:5-26; 18:1-32
  • Leis para sacrifícios e rituais – 5:1 a 7:89; 9:1 a 10:10; 15:1-41; 19:1-22; 28:1 a 30:16
  • Instruções para conquista a divisão da terra – 32:33-42; 34:1 a 35:34;
  • Leis sobre herança – 36:1-12
  • Poesia – 21:14-15; 21:17-18; 21:27-30
  • Oráculos proféticos – 23:7-10, 18-24; 24:3-9, 15-24

Ainda que haja esta diversidade literária a conquista da terra prometida é o elemento unificador do livro.

O quadro abaixo mostra uma proposta de divisão do livro:

I. A organização de Israel para a conquista da terra prometida 1:1 – 10:10
II. A rejeição da promessa divina de terra 10:11 – 14:45
III. A peregrinação fora da terra prometida: a jornada nas planície de Moabe 15:1 – 22:1
IV. A luta contra os obstáculos à terra prometida 22:2 – 25:18
V. Uma nova preparação para a conquista 26:1 – 36:13

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Propósito e conteúdo

O livro de Números, num primeiro momento, revela a fidelidade e misericórdia de Javé ante a rebeldia dos israelitas, além de revelar mais da sua natureza e caráter.

As narrativas históricas de Números explica a presença dos hebreus em Canaã, servindo como continuação de Êxodo e Levítico, além de fazer uma ponte entre as leis dadas no Sinai e a ocupação da Terra Prometida.

Na preservação dos registros da fase  inicial da aliança entre os hebreus e Javé, o livro também destaca os seguintes pontos:

  • A santidade de Javé
  • A pecaminosidade do homem
  • A necessidade da obediência a Javé
  • As consequências da desobediência
  • A fidelidade à aliança estabelecida no Sinai
  • A presença de Javé entre o povo da aliança
  • Soberania de Javé entre as nações

O livro de Números apresenta uma espécie de treinamento divino para que um povo, formado por ex-escravos, se tornasse a nação de sacerdotes estipulada na aliança (Ex. 19). Javé usou as dificuldades  no deserto para que o povo se habituasse às batalhas que enfrentariam na conquista da terra prometida e se organizassem em um exército ordenado e poderoso. Além disso, o livro narra a dura experiência de desobeder às ordens do seu Rendentor, servindo como material didático às futuras gerações de hebreus.

Números também destaca que, durante este treinamento, Javé foi o provedor fiel dos israelitas ao guiá-los pelo deserto como a coluna de nuvem e fogo, ao suprí-los materialmente e protegê-los (10:11 – 14:45; caps. 16 e 17; 20 a 25; 27:12-23; 31:1-33:49).

Os recenseamentos

 Os recenseamentos eram muito comuns no Antigo Oriente Médio para fins de:

1) Contar os homens aptos para a guerra – Nm. 1:3

2) Distribuição das tarefas do clã e no serviço religioso – Nm. 3:4

3) Cobrança de impostos – Ex. 30:11-16

Com relação ao número de israelitas contados, tendo por base apenas os homens com mais de 25 anos, numa interpretação literal, a população de Israel chegaria ao montante de 2 a 3 milhões de pessoas. Esta quantidade é sustentada pelo fato da população de Israel crescer numa taxa muito maior que os egípcios e também à promessa feia a Abraão sobre sua grande descedência (Gn. 12:2). Porém, o ambiente pouco propício do deserto para a reprodução humana e a incapacidade dos israelitas expulsarem todos os cananeus nos levam a interpretar estes de forma não literal. Alguns estudiosos sugeriam que se tratava da lista de recenseamento de Davi colocada no lugar errado, mas este teoria já não conta com tanto apoio. Outros ainda sugerem que se trata de uma figura de linguagem épica exaltando os feitos de Javé. A hipótese mais provável hoje é que devido à falta dos sinais vocálicos na escrita hebraica traduziu-se erroneamente a palavra clã, grupo ou tribo para milhares. Logo, ao invés de lermos milhares o correto seria grupos de pessoas, o que reduz a estimativa da população para algo em torno de 400 mil indivíduos, que ainda torna a narrativa coerente com o relato bíblico sobre o tamanho de Israel ante as outras nações (Ex. 23:29; Dt. 7:1-7).

As provações

 A provaçao é um tema exaustivamente repetido no Pentateuco. Desde o Éden até Abraão, de Jacó a José, Javé sempre testou a fé de seus escolhidos. Em Números, o propósito de Javé, ao testar o povo, era humilhar e ensinar os hebreus a depender totalmente dele, além da obediência aos mandamentos da aliança. O ensinamento consistia sobretudo em mostrar-lhes a verdadeira condição de seus corações e o quanto Javé era misericordioso.

Segundo o Novo Testamento, Jesus também foi provado em todas as áreas que somos tentados, para que pudesse ser o sumo sacerdote que se identifica conosco (Hb. 4:14-16). Tiago confirma este ensino ao escrever que Deus prova os seres humanos com o objetivo de aprovar a fé e desenvolver um caráter santo (Tg. 1:2-4), e não para reprovar a fé ou direcionar para o mal (1:12-15).

A revelação de Deus e a cultura

 O livro de Números registra a tratativa de Javé com a cultura humana. Ao estabelecer as cidades de refúgio, por exemplo, os culpados de homicídio não intencional tinham uma alternativa para fugir da ameaça de vingança que o parente mais próximo do morto pudesse realizar (Nm. 35:9-28). Este conceito era um avanço ético considerável para as sociedades do Antigo Oriente Médio.

Outro exemplo de ética e moral elevados da sociedade israelita em relação às outras culturas, foi a decisão de Moisés sobre a herança das filhas de Zelofeade (Nm. 27:1-11). Ele havia morrido sem deixar herdeiros masculinos, e apenas homens, até aquele momento, também em outras culturas, poderiam ser herdeiros de bens e terras. Esta lei elevou a posição das mulheres na sociedade hebraica, algo inédito na cultura oriental, indicando a fidelidade de Javé com relação à terra prometida (Nm. 33:50 – 36:1).

Por outro lado, Javé procurou condicionar sua revelação aos padrões culturais humanos ao utilizar sua linguagem e padrão dos documentos legais e ao realizar o recenseamento, que eram modelos culturais antigos já estabelecidos. Estes casos demonstram que Javé respeita a cultura humana e não a anula, porém existem casos que não dependem da cultura quando a obediência à aliança está em jogo.

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Milhoranza

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