O Egito é aqui (Parte 2)

Eu gosto muito de ler o Antigo Testamento. Principalmente os primeiros livros que contam a história de como Deus formou Israel. É lindo perceber que, se Israel tivesse feito as coisas conforme Deus ordenou, tudo definitivamente teria sido diferente. Falo lindo porque o fato deles não terem feito torna essa história muito parecida com a nossa. Na verdade, a impressão que tenho é que a Bíblia serve basicamente para a gente ver como é que torcemos as coisas e muitos elementos fundamentais do processo são trocados na “cara dura” para que tudo fique mais fácil.. mais “a nossa cara” (seja povo de Israel, sejam cristãos hoje).

Mas teve um momento específico no Antigo Testamento que gosto de rever. É quando Deus já passou todas as ordens de como deveriam ser as coisas para Israel. No fim do livro de Levítico, capítulo 26, Deus diz ao povo: Olha, se fizerem as coisas que eu disse pra fazerem, tudo vai ficar bem mas se não fizerem……  Bom, a parte do “se não fizerem” é o resumo do resto do Antigo Testamento. Toda desgraça que tinha para acontecer se eles desobedecessem, aconteceu. Porque desobedeceram é claro. Mas por que desobedeceram afinal? E essa pergunta que tenho ruminado por essas dias..

Aquele povo foi um povo escravo de um outro povo, que tinha um cultura bem diferente daquela que Deus estava querendo começar em Israel. Os egípcios sacrificavam crianças, adoravam diversos deuses e há quem diga que foram os extraterrestres que fizeram as pirâmides e os influenciaram nas áreas da ciência . Mas o que é relevante aqui é perceber que o povo de Israel pensava e vivia em escravidão. Eu tenho um amigo (o Pedro do Borel) que diz que a questão não é tirar as pessoas das favelas mas tirar as favelas das pessoas. A impressão que eu tenho é que ter tirado o povo de Israel da escravidão não tirou a escravidão do povo de Israel. Da mesma forma no Brasil, muito escravos negros após terem sua carta de alforria , se tornaram comerciantes de outros escravos negros e enriqueceram às custas de seus “irmãos” africanos. A história nos atesta como e difícil mudar velhos hábitos.

Se tem uma coisa que herdamos, seja de Israel, seja da Àfrica, foi essa mentalidade escrava. Parece que não temos a facilidade que imaginamos ter para lidar com a liberdade. A prova disso é como vivemos nossa vida cristã. Confundimos facilmente livre arbítrio com liberdade ou ainda liberdade com libertinagem… esquecemos anos de história cristã (boa ou ruim) e achamos que nossas novas escolhas de como ser igreja serão, como foram com Lutero, uma nova reforma. Sem levar em conta claro que Lutero não queria fazer outra igreja. Queria apenas restaurar a original.

Mas como pensam os escravos, sempre o melhor é aquilo que não temos. Se estamos no Egito, o deserto há de ser bom. Se estamos no deserto, o Egito há de ser melhor. Se chove muito com certeza seria melhor o sol mas quando o sol perdura, uma chuva cairia bem. O frio é ruim no inverno mas o calor incomoda no verão. Se a globo fala mal dos crentes é do diabo mas se “fulano gospel” cantar no caldeirão é de Deus. Nossa ambiguidade é cativa de fatores que quase nunca percebemos. Falamos mal do BBB mas continuamos assistido. Falamos mal da igreja mas continuamos omissos como cristãos. Falamos em sermos livres mas permanecemos algemados em sofismas, dogmas, formatos e divisões. Buscamos a prosperidade financeira enquanto pregamos um Cristo que renuncia tesouros no mundo. Enfim, Vivemos na carnalidade enquanto posamos de santos no paraíso.

Saímos do Egito há muito tempo mas ainda o temos  dentro de nós. Andamos como cristãos mas vivemos como fariseus. Precisamos, com uma boa dose de urgência, nos livrar das correntes que nos prendem ao muro das nossas lamentações. Jesus já nos deu a carta de alforria. Agora rumamos ao Egito para ler para àquelas que ainda não a conhecem e sejamos de fato, libertos pela verdade que temos pregado!

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