Há coisas que é melhor que nem se pense, nem cogite essas possibilidades, pois vai que elas são viáveis e aplicáveis, vai que você decida viver desse jeito impossível;
vai que você consiga viver num mundo consumista sem ser consumista, sem se deixar levar pelas marcas e corporações, sem se importar com aquilo que os outros vão pensar, sem alimentar esse sistema que se diz livre enquanto alimenta a escravidão;
vai que você descobre uma economia que não só seja gentil ou simpática, mas possa se basear nas necessidades de todos, sem especulação, exploração, lucro ou propriedades;
vai que boa parte do que disseram que era essencial pra sociedade existir só é essencial pra alimentar a pança daqueles que pertencem a nobreza;
vai que você decidi levar a vida aquém do Estado e descobre que ele não só faz muito mal como ele é mau em si, vai que você consegue estender isso a uma pequena comunidade, que você consegue mostrar pra todos a sua volta, através do seu modo de viver, que existe sim organização sem meios controladores e reguladores exteriores, que é possível contemplar todos os indivíduos sem a besteira de que não dá pra agradar a todos;
vai que agradar a maioria não só é falta de respeito, como é cruel com aqueles que não fazem parte dessa “maioria”;
vai que é possível ser um indivíduo sem ser individualista, sem esquecer ou denegrir o próximo;
vai que amar o próximo não é um peso, mas a maior das alegrias, uma forma de se sentir pleno, uma forma saudável de viver;
vai que a Igreja não é feita de comunidades, mas de pessoas, pessoas que decidiram se desligar de si para contemplar o próximo e sem querer se tornaram indivíduos melhores;
vai que você descobre que existe Igreja sem igrejas, que a instituição é negócio muito mais simples, sem paredes ou representantes diplomados, que é possível ser uma instituição livre e orgânica como o vento que sopra onde quer;
vai que de repente você enxerga que focar na maioria é desculpa pra deixar ricos e poderosos confortáveis em seu pedestal de areia;
vai que Maioria é um conceito diferente, talvez até contrário, de TODO mundo;
vai que respeitar o próximo não é um sacrifício mas um jeito mais leve de levar a vida, ser compreensivo não é ser fraco, mas conseguir enxergar as atitudes do próximo como reflexo de suas limitações, reconhecer as limitações do próximo é assumir minhas limitações, assumir minhas limitações é reconhecer a necessidade de ajuda, e por fim, reconhecer a necessidade de ajuda é o melhor que posso fazer, não só pra mim, mas para todos;
vai que o casamento é um símbolo que preciso de ajuda e não consigo nada sozinho;
vai que é ótimo ser casado, que é possível ter um casamento pleno baseado no amor e no respeito ao cônjuge em que você consegue ser um com ela sem que você ou ela se anulem;
vai que viver um amor sacrificial não só é possível como é transformador, transforma não só seu caráter como transforma a vida de todos a sua volta;
vai que que a máxima «eu sou assim e não venha me dizer que você não é» é uma mentira corruptora e essencial para esse mundo de pecado, não só existem alternativas como elas são aplicáveis e viáveis.
Melhor nem pensar, pois vai que você decide viver assim em 2012…
Kyrie eleison
A imagem que ilustra esse post é a obra O grito, do pintor expressionista alemão Edvard Munsh.