Vendo a distância uma figueira com folhas, foi ver se encontraria nelaalgum fruto. Aproximando-se dela, nada encontrou, a não ser folhas. […]Chegando a Jerusalém, Jesus entrou no templo e ali começou a expulsar os queestavam comprando e vendendo. Marcos11. 13;15.
Quando estoucansado, tem uma coisa que gosto de fazer: assistir um bom filme! Isso me ajudaa relaxar e a refletir. Existe um filme chamado Alfie – Um Sedutor, que é interpretado pelo o ator Jude Law. Alfieé um homem independente, conquistador e que se afasta de qualquer mulher quequeira compromisso. Sua filosofia de vida é a hedonista (vinhos e mulheres),onde só o prazer é que interessa. Segundo Alfie nos conta, certa feita,enquanto visitava um museu, vislumbrou-se com a estátua de uma deusa grega,ficou extasiado por ela: “a forma feminina perfeita” dizia. Porém, quandochegou mais perto, percebeu na lateral dessa escultura, pequenas rachaduras,lascas, imperfeições. Assim é também, segundo Alfie, com os relacionamentos,quando se chega perto demais, as imperfeições aparecem e o encanto se vai.
A passagembíblica acima fala do ocorrido entre Jesus e a figueira, um episódio que sempreme chamou a atenção. Pensava: “tadinha da figueira, não era seu tempo de darfrutos e mesmo assim Jesus a amaldiçoa”. Por quê? As figueiras eram fontes dealimentação barata nas terras da Palestina, e em todo o território era plantadapara alimentar os viajantes. O primeiro sinal de que uma figueira tem frutos éo surgimento das folhas. Jesus aoavistar aquela árvore frondosa, pensou que nela encontraria o fruto quesaciasse sua fome. Mas não, chegando perto da árvore, viu que era somente aparência… de perto, viu asrachaduras!
O autor deMarcos, sabiamente, encaixa esse evento antes da purificação do templo, pois oacontecimento com a figueira é uma forma de prelúdio.
“Amaldiçoar uma árvore porque não dá frutos pareceirracional para muitos, pois, como lembra Marcos, o tempo que antecede a Páscoanão era a estação de figos. Contudo, a maldição assemelha-se às açõesproféticas do AT, cuja peculiaridade atrai a atenção para a mensagem que estásendo simbolicamente representada […] A árvore estéril simboliza asautoridades judaicas cujos pecados estão demonstrados na ação interveniente depurificação do templo, que se havia transformado em um covil de ladrões, em vezde uma casa de oração para todas as nações (Jr 7.11; Is 56.7)”.[1]
O templovisto de longe, aparentava atividades de adoração a Deus, piedade e devoçãoreligiosa. O templo tinha boa aparência, mas sucumbiu ao olhar de Jesus. Esseepisódio é tão importante no ministério de Cristo, que não escapou da pena denenhum dos evangelistas canônicos.
O tema queune esses dois episódios é o do fruto: Jesus vai à árvore e não acha; vai ao templo,centro religioso do povo de Deus, e também não encontra. O fruto que o templodeveria dar, não foi encontrado por Cristo.[2]
A perguntaque fica no ar é: E se Jesus chegar mais perto de nós, o que encontrará?Rachaduras, lascas e imperfeições com certeza, mas, também umcoração desesperado em esconder e maquiar essas imperfeições? Encontrará um serque luta desesperadamente para manter uma imagem de piedade e devoção, mas queno fundo não passa de um sepulcro caiado? O que ele encontrará quando chegarmais perto de nós?
De uma coisa tenho certeza, Jesusnão espera encontrar em nós perfeição, mas, um ser humano disposto a serhonesto e dependente, que se entrega ao discipulado da cruz e não o troca poruma imagem evangélica barata e narcisista. No relacionamento com Deus nossasfalhas aparecem, mas o Seu amor também, isso faz toda a diferença, e nospermite constituir com Ele, um relacionamento sincero e duradouro!
[1] BROWN, Raymond E. Introdução ao do Novo Testamento. SãoPaulo: Paulinas, 2004. p. 225.
[2] Os discípulos estavampreparados para a leitura de gesto simbólico de Jesus, porque a imagem dafigueira para indicar o povo de Deus infrutífero era bastante conhecida natradição bíblica. Cf. FABRIS, Rinaldo. In: BARBAGLIO, Giuseppe (et al). Os evangelhos (I). São Paulo: Loyola,1990. p. 552.