Você, meu caro leitor, ser humano falho e pecador, deve se roer quando alguém se incomoda com sua presença. Ninguém gosta de ser rejeitado ou deixado de lado, principalmente quando você está certo. A verdade incomoda, e neguinho não curte muito ser encurralado.
Eu mesmo, lembro facilmente de alguns episódios em que meu orgulho foi exposto de tal forma que meus nervos subiram a cabeça que eu queria pegar uma cadeira jogar na pessoa que expôs meu pecado de forma tão escancarada. Logo eu, que procuro ser tão razoável e coerente, vejo minha própria incoerência sorrindo pra mim, com aquela face cheia de cinismo dizendo “Eu sempre estive aqui, mané, mesmo quando você tinha certeza que eu não estava…”
Não sei se existe coisa mais desagradável que a verdade, não sei se tem coisa que me tire mais do sério que a exposição dos meus erros, não sei se tem coisa mais incômoda do que apontar incoerência e quebrar seu irmãozinho e não poder ajudar a juntar os pedaços (pois afinal, o oleiro não sou eu).
A nós, existe uma enorme tentação de agradar os outros, de soltar meias verdades, para que o próximo não se machuque, não sofra, não passe por nenhuma frustração. É esse maldito politicamente correto que afaga o coraçãozinho fraco dos oprimidos e omite a verdade, ou enfeita ela para que pareça mais agradável. É essa ilusão que cega, cega de tal maneira que nos escraviza dentro de personagens agradáveis à nossa sociedade. Como diz Paulo Brabo, a pior coisa que você pode fazer pelo próximo é tentar agradá-lo. Que construção existe sem barulho? Que desafio existe sem nenhum incomodo? Que profecia há naquele que traveste a verdade com máscaras e a deixa toda arrumadinha e tolerável?
É, meu amigo, a verdade incomoda, mas ela tem um propósito, e seu propósito não é chocar o próximo.
Nosso Criador, Aquele que é a verdade, Esse não se dá ao luxo de agradar à suas criaturas. Deus, em sua realeza, não tem nenhum problema em ser completamente desagradável, muito pelo contrário, por mais que Deus não seja partidário do sofrimento, Ele não tem nenhum problema em nos tirar de um mundo de ilusão, nos tirar do escuro e nos levar à luz, por mais que isso possa causar um enorme, quase insuportável, desconforto. A liberdade vem logo depois da retirada da escravidão, mas pra quem sempre foi escravo, é difícil aprender a ser livre (e aprender nunca é uma tarefa fácil).
Você quer ser profeta, um agente da verdade, um porta voz da vontade do Senhor? Você tem certeza disso, meu irmão?
Pense bem antes de responder, dê uma olhadinha nos profetas pra ver se topa essa parada, Jeremias não parece muito contente com a tarefa, tão descontente era que escreveu um livro só de lamentações. Acredito que Oseias não gostava muito de ir buscar sua mulher num puteiro, e Jonas, tadinho, fugiu o máximo que deu da horrível tarefa de avisar um povo que iria ser destruído.
A verdade destrói lares, separa pais de filhos, maridos de esposas, e não é nada agradável. A verdade pode ser libertadora e bondosa, mas pra chegar lá é necessário que se seja feita nova criatura, e o parto dessa nova criatura não é nada agradável.
A imagem que ilustra esse post é uma ilustração que está na Bíblia de Bury, uma bíblia manuscrita feita em 1135 pelo ilustrador Mestre Hugo, um dos primeiros ilustradores que se sabe o nome da Inglaterra