“Os crentes trazendo panfletos e os espíritas trazendo comida aos moradores de rua… Pergunto: Qual dos dois trouxe EVANGELHO?”
Frase escrita por @crentassos no twitter
Além de alguns retuítes, essa frase criou uma pequena discussão; quase entrei nela, mas achei que meus argumentos iam além dos 140 caracteres; decidi que valia a pena investir um pouco mais de teclas no meu discurso em cima da pequena questão trazida por meu caro amigo Sr. Crentassos.
Uma das bases dos ensinamento de Jesus, e talvez a única coisa inédita que ele trouxe, é o Sermão do Monte — um aprofundamento da lei que vai além das práticas exteriores, vai à nossa intencionalidade, àquilo que nosso coração pretende com determinada ação. Se você nunca analisou o Sermão da Monte, abra Mateus 5 e note como Jesus pega alguns mandamentos e vai um passo além daquilo que os mandamentos já previam. Quando Moisés diz Não matarás, Jesus diz qualquer um que se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento. Isso acontece com outras leis e mostra que Jesus não era muito parceiro das aparências, ele queria uma parada mais profunda, uma mudança real, não só nas ações mas também no coração.
Trago a parábola do cobrador de impostos e do fariseu (Mateus XXI 33–40 · Marcos XXII 1–12 · Lucas XX 9–16) como ilustração; o fariseu, um homem exemplar, bem quisto e respeitado pela sociedade; o cobrador de impostos, um sujeito corrupto que lucrava trabalhando para o inimigo, o império romano. Os dois estão orando no templo, um em voz alta olhando para o céu agradecendo por não ser cobrador de impostos, outro em voz baixa, olhando para o chão pedindo misericórdia, pois sabe que leva uma vida errada. Jesus diz: Esse que ora em voz baixa vai para casa em paz com Deus. Só pra aprofundar a ilustração da parábola, o fariseu seria o Cristiano, fundador desse blog, um cara que a gente respeita e um amigo que boto a mão no fogo sem pestanejar; o cobrador de impostos seria o Sarney, um ditador (vários adjetivos vem a minha mente, mas prefiro não me comprometer) que não larga o Maranhão.
Pra piorar a ilustração, trago a sacanagem do evangelho, que apesar de sacana, é muito linda, mas facilmente parece injusta na visão de um pobre pecador.
Pra Deus, a intenção do coração é muito importante. Como já foi afirmado num outro post do Caio, Deus não joga com ninguém, e logo ninguém joga com Ele.
Deus não joga, porque Deus não é interesseiro. Ele não quer se dar bem, Ele não tem como se dar bem, porque Ele não tem nada a perder, pois afinal Ele criou tudo, Ele é tudo, e é muito maior que tudo. E se ninguém joga com Deus, a intencionalidade do coração é de extrema importância, pois o que fazemos, devemos fazer sem esperar recompensa, gratuitamente pela graça e pelo amor àquele que é mais que tudo. O jogo visa ganhar alguma coisa e, por mais inocente que pareça, é o orgulho quem nos move a jogar, é nosso interesse em se sentir bem que alimenta essa vontade de ganhar, e se alguém ganha, alguém perde, e se alguém perde, alguém sofre; então, o jogo envolve o prazer em cima do sofrimento de alguém (e aqui não falo do jogo como brincadeira, aquele que jogamos pra se divertir).
Agora eu volto pra pergunta que abriu o post: quem leva o evangelho, o crente que leva panfletos ou o espírita que leva comida?
Na prática, a comida parece mais relevante que o panfleto, mas a resposta dessa pergunta só Deus sabe. A sacanagem da intencionalidade faz com que nossas ações sejam menores em relação àquilo que está plantado em nosso coração. Tanto o espírita quanto o crente podem levar o evangelho, pois os dois podem fazenr o que estão fazendo por amor ao próximo. A meu ver, por mais sacana que pareça, Deus não coloca juízo de valor em nossa ações, mas coloca juízo de valor na intenção do nosso coração. Deus não exige mudança de vida (porque é o próprio Deus quem muda nossa vida), Deus pede entrega, pede coragem de viver o evangelho, pede coragem de amar o próximo ao ponto de que o próximo seja mais importante que nós mesmos. Se nós, cristãos, temos alguma diferença em relação aos outros, é, como disse o Pepe, o simples fato de sabermos que somos pecadores (e que o pecado faz muito mal à nossa vida).
Taí a diferença entre o fariseu e o cobrador de impostos, o fariseu estava jogando com Deus — mostrando pra Deus como é bom e mercedor de tudo o que tem —, o cobrador de impostos estava se entregando pra Deus — assumindo suas falhas e a necessidade que ele tem de Deus na sua vida.
Porém porque isso é uma sacanagem?
Presta atenção, quem vai pra casa em paz com Deus é o Sarney, aquele trolha que rouba a grana do patrimônio público desde que aprendeu a falar! O Cristiano, um cara firmeza, não fica em paz! O evangelho fez a diferença na vida do cara que fez tudo errado; o cara que leva uma vida correta, de acordo com evangelho, não está em paz com Deus, porque suas intenções não são as mesmas do evangelho. Deus faz sentido, mas nossos olhos estão cegados pelo pecado, que tira o sentido das coisas, e por isso o evangelho se torna tão complicado e parece uma baita sacanagem.
Deus é um cara massa, mas muito maior que qualquer coisa que podemos imaginar, sua misericórdia é tão grande quanto Ele próprio e Sua graça maior ainda a ponto de qualquer ação tosca nossa brilhar um pouquinho da luz do evangelho, e essa minúscula luz é capaz de levar Vida onde a morte impera.
No fim das contas, o que você faz não é tão importante quanto como você faz, pois não existe chance nenhuma de nós mesmos conseguirmos levar transformação até as pessoas, a não ser que o próprio Deus esteja nos usando, seja no folheto ou no prato de comida.