Eu queria ser assim – Samuel Sobottka

Há muitos anos acompanho de perto um menino com Síndrome de Down. Vim o conhecê-lo através de um grande amigo meu. Seu nome é Samuel. Seus pais o educaram de forma magnífica. Toda vez que o vejo, sinto uma pancada grave no peito, uma espécie de som de uma trovoada ecoando dentro de mim. Desde de muito cedo, seus pais o rodearam de amor e de … livros. A leitura é algo que sempre fez parte da vida do Sami. Em todos os cultos, o Sami está sentado na primeira fileira. Em todos os louvores mais difíceis o Sami esteve sempre muito presente, vibrando muito, com suas baquetadas no ar. Desde criança sempre gostou demais do som da bateria e logo passou a brincar numa bateria abandonada da igreja. Em seguida chegou até a pegar algumas aulas.


Já fui um corredor de rua. E não foram poucas vezes que vi o Sami caminhando na rua, indo cumprir suas obrigações: indo pra escola, pro médico ou fazer suas caminhadas matinais. Todas as vezes que encontrei esse menino na rua, ele me desconcentrava completamente. Me emocionava sempre, e com isso, meu coração perdia o ritmo da corrida e meu corpo parecia pedir um sofá para se acomodar e contemplar aquela vida. Faça sol ou faça chuva, o Sami caminha até hoje todos os dias, como uma forma de se exercitar em prol de retardar a atrofia muscular. O Sami é um menino querido demais por todos os que o cercam. E creio que ele tem ensinado muita coisa pra muita gente. Em todos esses anos, tenho aprendido com ele o que é a disciplina e a obediência. Desde a sua determinação em sair todos os dias as seis da manhã para caminhar, até a obediência aos pais em cumprir obrigações sozinho, o Sami é um exemplo pra mim.


Quando olho pra mim, sinto vergonha muitas vezes da minha falta de disciplina e da minha desobediência a Deus. E minha vontade de me tornar alguém melhor nesse sentido, me faz pensar em tudo que poderia acontecer na minha vida, que pudesse ser válido como circunstância na qual eu viesse a me tornar alguém mais amável, mais simples, mais parecido com uma criancinha do Reino, tal como o Sami se parece. Esses dias fui caminhar às seis da manhã. Eu estava com os fones de ouvido, quando de repente senti um toque leve no meu ombro. Era ele me ultrapassando, dizendo “Bom dia Caio!” com um sorriso no rosto. Passei aquele dia inteiro murmurando com Deus e lamentando o fato de eu não conseguir entender esses paradoxos belos e malucos da vida. O fato é que o mundo não é digno de meninos como o Sami. E se todos tivessem um pouquinho da ingenuidade desse menino, não estaríamos fazendo nossas vidas tão distantes do Éden.


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