São dois movimentos, um de espiritualização e outro de desespiritualização. Não sei dizer se esses movimentos surgem dentro ou fora da igreja, mas suspeito que eles tem origem com as ideias de Nietzche. Ao menos, Zaratustra me parece tentar tirar a transcendência do ser humano, como se ela atrapalhasse o caminho para o super-homem (o super homem de Zaratustra, não o da Action Comics).
Esses dois movimentos tem a mesma consequência, eles tiram a realidade, diminuem o sabor do que nos é oferecido e insistem em dizer que o brilho, as cores e a beleza são desnecessários. Eles movem algumas coisas de seu lugar real, criando uma pequena ilusão, e escravizam nossos corpos ou nossas sensações à algo pode ser medido e tocado.
Eles partem da mesma premissa, dar mais importância a um lado em detrimento a outro; no caso da desespiritualização se valoriza o tátil, o corpo, as sensações e nega o transcendental, o intocável, o incompreensível; no caso da espiritualização se valoriza o transcendental, o intocável, o incompreensível e nega o tátil, o corpo, as sensações. São dois movimentos que promovem a desintegralização do ser humano, um valorizando o corpo, outro a alma.
Usando o sexo como exemplo, a partir do momento que que você desespiritualiza o sexo, ele se torna uma ação egoísta e sozinha. Mesmo quando você transa com outra pessoa você busca o seu prazer e não o prazer dos dois. O outro é um “mal” necessário para que seu prazer seja maior (pois uma vagina é muito melhor do que sua mão, porém a vagina dá muito mais trabalho, pois ela pertence a uma mulher, e mulher não libera sua vagina para satisfazer suas necessidades fisiológicas; pois afinal sexo é só uma necessidade fisiológica).
O movimento de espiritualização, ao negar o corpo, acaba negando o sexo como benção e torna essa prática, que é um presente de Deus, um “mal” necessário para o casamento, uma sacanagem (em todos os sentidos dessa palavra) que Deus colocou na nossa vida. Esse movimento aumenta a culpa, pois todo mundo tem vontade de fazer sexo, e essa vontade não diminui, ela aumenta, e, como essa sexo é pecado, essa vontade, e quase tudo o que é relacionado ao sexo, se torna coisa do diabo. Se dá mais valor ao transcendental e acaba tornando as necessidades sexuais duma pessoa em algo ruim e condenado por Deus.
Todavia, sexo é uma experiência integral onde corpos e almas se ligam, tornando dois em um, juntando duas pessoas numa só de modo sobrenatural e transcendental, um mistério que não cabe em nossos pensamentos e não faz nenhum sentido. (E se ele não é uma experiência integral, ou seja, que liga corpo e alma de duas pessoas os fazendo uma, como uma penetração pode interferir tanto na nossa vida a ponto de construir famílias, manter a unidade entre duas pessoas e, quando distorcido, destruir vidas.)
A partir do momento em que o corpo perde alma o ser humano vira zumbi, comedor de carne e sem cérebro, que não vive, só sobrevive; a partir do momento que o alma perde a corpo, o ser humano vira fantasma, intocável e imortal, e logo nem fantasma, nem zumbi são capazes de alcançar a Deus, pois até o Criador se fez homem, para que como homem, pudesse salvar a Humanidade.
O sexo é o exemplo mais fácil de perceber essa desintegralização do ser humano, pois pouca coisa é falada sobre o sexo. Na maioria das vezes a prática sexual é incentivada, mas além disso, pouca mais é dito, seja dentro ou fora da igreja.
Deus criou as coisas de forma plena e pura, resgatar a obra que foi distorcida e diminuída é um passo para mais perto do Céu. Não só nós, seres humanos, mas toda a criação anseia pela volta Restaurador. Aproximar aquilo da sua realidade, conforme Deus quer, é mais um gole de vida que damos para um mundo de morte.
A imagem que ilustra esse post é a obra “O grito” do pintor norueguês Edvard Munch, um dos pioneiros do Movimento Expressionista alemão.