Crônica 1

Vou adicionar mais uma tag nos meus posts. Pra diferenciar meus textos opinativos das minhas queridas anedotas vou usar a tag crônicas. Crônicas são um formato de texto que surge no jornalismo, são carregadas de opiniões, são em primeira pessoa e carregam um estilo literário rápido e conciso. São a versão poética das colunas de jornal. (falando em crônicas, você conhece o Xico Sá?)

Eu acho necessário dar nome aos meus formatos de texto que eu faço porque tem textos que eu não consigo, ou não quero, dar um título então eu posso simplesmente numerar o texto de acordo com sua modalidade. Assim como existe a anedota n.1, essa que você está lendo é a crônica n.1, só porque eu não tenho nenhum título pra esse texto. Facilita minha vida e ainda homenageia grandes pintores modernistas que admiro (tipo Mondrian, que ilustra este post), que não davam nome a seus quadros, mas os numeravam.

Porém não estou escrevendo esse texto ao léu, pra exibir ou expor meu sistema, quer dizer, não só pra isso, mas faz tempo que venho matutando no peso literário que nossos textos podem ter (quando digo nossos, digo da família crentassos e dos camaradas blogueiros cristãos subversivos por aí a fora). Particularmente, sinto falta de literatura cristã de qualidade, de textos originais que tem uma preocupação não só com o conteúdo, mas também com a forma, com a estética textual.

Eu gosto de literatura, curto os romances e curto muito quando os ensinamentos se misturam às histórias. Pra você entender do que estou falando, gosto muito de John Stott, mas se fosse pra escolher entre ele e Nietzche, ficava com as histórias de Zaratustra (personagem de Nietzche), pois são uma literatura muito mais deliciosa de ser lida (apesar de concordar muito mais com Stott). É uma questão estética e formal, porém, acredito que muito do sucesso de Nietzche é consequência de sua bela narrativa.

E olhe para a literatura moderna, quantos cristãos tem seu nome guardado na história da literatura? Macdonald, Lewis, Tolkien? E na literatura contemporânea? Tólstoi e Dostoieski? E no Brasil? Talvez Ricardo Gondim, Paulo Brabo e Lindolfo Weingrtener são os que chegam mais perto de uma crônica mais poética, mas é só isso, nada de histórias maravilhosas, novas parábolas, novos personagens peregrinando nossa formação espiritual. Não sei se você sabe, mas muito da formação espiritual evangélica brasileira se formou através do romance O Peregrino de John Bunyan. Não foi um Calvino ou Lutero, mas um romance que foca na caminhada em busca da perfeição para a cidade celestial.

Os valores cristãos são tão simples, e aplicáveis a todas as partes da nossa vida, mas será que só conseguimos compartilhar esses valores reduzindo-os a prédicas, palestras, ensaios e tratados teológicos? Será que não dá pra dar um pouco de vida nas nossas palavras, não dá pra aproximar o evangelho do nosso cotidiano? Não dá pra adicionar uma riqueza estética a nossa exposição bíblica?

A imagem que ilustra este post é a Composição N. II em vermelho, azul e amarelo do pintor holandês Piet Mondrian.

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