Igreja cidadã

Ray MacCauley, pastor da igreja Rhema que fica em Johanesburgo, África do Sul, uma vez disse sobre a missão da igreja na terra: “Mais que um hotel, deveríamos parecer um hospital”. Por semanas pensei a respeito do que este renomado pastor sul africano disse dado seu histórico. Explico. Quando foi fundada em 1979 por Ray, um fisiculturista renomado que quase ganhou o concurso de Mister Universo a Igreja Rhema era uma das únicas denominações que pregava a ainda desconhecida teologia da prosperidade no continente. A mensagem de ”resolva seus problemas agora mesmo” atingiu em cheio uma população sedenta de misericórdia que há anos permanecia sob a tutela de uma ditadura racista, afundada em pobreza e com o risco crescente de doenças. O resultado foi que em pouco tempo a igreja cresceu em números, passando de 17 membros para 35 mil, e importância o que chamou a atenção até mesmo de Nelson Mandela que posteriormente procurou Ray visando apoio a suas idéias. Com a oferta de Graça, prosperidade e cura o Pr. Ray agrupava milhares de seguidores onde quer que falasse e isso refletiu em uma enorme entrada de dinheiro para a sua instituição.
O Tempo passou e Ray resolveu mudar o enfoque de seu ministério construindo hospitais para aidéticos, programas habitacionais e uma fazenda para reabilitação de dependentes químicos. Penso que este é o verdadeiro enfoque que deveria ter o evangelho já que Jesus sempre procurou referir-se a igreja com as expressões “cidade na colina”, “luz nas trevas” e “pitada de sal na carne”.
Não podemos nos furtar a responsabilidade de formadores culturais por onde quer que passemos e isso implica estar atento ao que a sociedade espera de cada um de nós individual e coletivamente. Dias atrás estava em uma conversa com dois bons amigos e tocamos no tema “Marcha para Jesus”, uma encontro evangélico que acontece em muitas cidades em que cristãos andam pelas ruas com bandeiras e hinos de louvores ao Senhor e que aconteceria em nossa cidade. Foi aí que um de meus amigos respondeu: “Respeitarei a Marcha para Jesus quando esta for em direção às favelas, para ajudar o oprimido, para dar pão ao que passa fome”. Será que estamos fazendo bem nosso papel na sociedade?  Será que mudar o enfoque de nossas igrejas atualmente não se faz necessário?
Recentemente o pontífice da igreja católica pediu desculpas por uma série de atos cometidos durante anos com o aval da santa madre igreja. Anos de torturas, roubos e mortes em nome de Deus. Nós protestantes não ficamos muito atrás. Nos últimos 150 anos em nome de Deus e de uma suposta e insossa pureza, igrejas protestantes renomadas foram cúmplices de assassinatos, genocídios e segregação o que geraram evidentemente desculpas públicas por parte de várias denominações espalhadas pelo mundo. Pergunto-me do que nos desculparemos dentro de 200 anos? Será que nossa apatia diante dos flagelados, oprimidos, necessitados e da exploração do pobre não constitui crime?
De uma coisa tenho certeza: Espero que em seu grande dia, Jesus tenha mais misericórdia conosco do que estamos tendo com seus filhos.
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