Não sei se você, como eu, passa por dias em que olha pra tudo que está acontecendo ao seu redor, e não sabe muito bem o que dizer. Dias em que é dificil verbalizar qualquer idéia. A mente parece cair num inerte e silencioso standby. Confesso, é um pouco estranho lidar com esse silêncio. Estranho talvez, devido ao costume do contato com muito barulho. E é fato mesmo: há um insistente ruido externo, inato à rotina. A gente mesmo produz muito barulho. Conectados praticamente o dia inteiro a diversos tipos de mídias sociais, a gente ta no meio desse barulho. Frases de efeito, bobagens que nos fazem rir, discussões de todos os níveis, gente amarga se bicando, gente feliz se aplaudindo, gente carente se pedindo, gente quebrada se amando…ruído do mundo e das pessoas.
Na caixa de emails, são os amigos marcando encontros, gente pedindo favores, correntes de email, noticias, compromissos… La fora, a passarinhada tenta cantar mais alto que o motor dos caminhões , a criança chora sem leite no andar de baixo e a mulher cantarola do varal no prédio vizinho… mais barulho. Mesmo que entre tantas coisas ruins, esteja acontecendo muita coisa boa, a impressão é de que tudo ainda está fora do lugar.
Em dias assim parece que a alma entra num modus operandi silencioso, como se quisesse se proteger de algum excesso e desordem. Bate uma calmaria no peito, e um sentimento fatalista de conformação se instala: “Me rendo. Deixe que tudo seja como é.”
Há uma letra do Herbert Viana que diz assim:
“Quartos de hotel são iguaisDias são iguaisOs aviões são iguaisMeninas iguaisNão há muito o que falar sobre o diaNão há do que reclamarTudo caminhaE as horas passam devagarNum ônibus de linhaPassos no corredor, alguém se aproximaE uma voz estranha diz: “Bom Dia”
Posso pedir os jornaisPedir o jantarLigar pra tantos ramaisNinguém pra falarSobre o vermelho que abre este diaTudo está no lugar em que não deviaO mundo sai pra trabalharEnquanto eu abro a água friaUm estranho no espelhoEu quase nem me conheciaE uma voz estranha diz:“Bom dia.”
Pode até soar mau-humor. E talvez até seja. Mas é a rotina.
Pessoas, o trabalho, a cidade, o trânsito, parece que nada mudou…”As coisas são assim mesmo…” Eis aí, dias em que aquelas coisas escritas por Salomão em Eclesiastes parecem fazer um estrondo mais alto que qualquer barulho aqui na terra. Sinceramente, oro pra que eu me mantenha sempre distante de um sentimento de indiferença que me impeça de ver cada dia, sempre como um novo dia e uma nova oportunidade de fazer alguma diferença no mundo. Que amanhã, seja uma feliz segunda-feira pra você, leitor.