“Amados pais. Se estão lendo esta carta, é porque ainda temos o aeroporto. Tenho certeza que esta será a última que seu amado filho lhes escreverá. Temos russos por todos os lados e não nos mandam ajuda de Berlim. Lhes tenho uma triste notícia, Granstsau morreu semana passada. Estava ele, eu e mais três andando quando simplesmente caiu no chão com a cabeça aberta. Amados pais, chorei muito ao vê-lo, porque crescemos juntos, lembram-se? Quando éramos crianças, quebrei a perna, ele me levou a casa nas suas costas com a minha perna quebrada. Sinto muito pelos pais dele. Perdi meu único amigo. E aqui haverá o fim. Nosso comandante se matou com um tiro na boca ontem de noite. Nossa moral não existe mais. Mas espero que essa maldita guerra acabe, pouco me importa o que aconteça. Se não receberem mais cartas minhas, vão para Espanha o quanto antes, sabemos que é uma questão de tempo dos russos chegarem em Berlim. Amados pais, após essa guerra, a Alemanha ficará atônita ao saber que o soldado que lhes escreve teve a vida salva por um médico judeu. Estou bem dos ferimentos, mas a cicatriz é enorme e horrível. Amados pais, se cuidem. Se não receberem mais cartas minhas, vão para Espanha, o dinheiro vocês já tem. Logo estaremos de novo conversando com Hilse, nos bom tempos dos dias de sol. Com muita devoção, seu filho querido.”
Fonte: Cartas de Stalingrado, Coleção Einaudi, 1958.
Esta carta foi escrita por um soldado alemão durante o cerco do exercito alemão à cidade de Stalingrado.
Quando optei em falar sobre guerra achei o tema fácil de abordar visto que existe muito material para escrever. Para minha surpresa o tema não esbarrou nesta questão, mas em sentimentos internos sobre a guerra que tenho por ser militar desde meus 18 anos de idade! “Nossa força de combate mantém nossa soberania” disse uma vez um comandante em uma palestra que eu assistia aos meus 19 anos. “Retire o exercito e não demorará em que nossas fronteiras sejam invadidas e nós acabemos por perder boa parte de nosso território”, era a idéia difundida pelo oficial de alta patente de nosso exército na época em que me alistei. Lembro-me de concordar com as palavras dele, e ainda hoje concordo, mas o que não sabia nessa época é que a guerra, vista do ponto de vista das suas vítimas é a pior coisa que pode acontecer com uma nação.
Os motivos podem ser muitos, mas a guerra ainda parece ser a preferência quando o objetivo é subjugar algum país, tribo ou etnia. Parece-me que ainda não notamos que juntamente com a guerra vêm as doenças, a morte, o caos e a desolação de pessoas que são iguais a mim e você. A morte de qualquer ser humano deveria nos ofender como raça, sobretudo quando a morte é provocada por objetivos escusos de um homem que fica atrás de uma escrivaninha. Pergunte a qualquer soldado que um dia esteve no front se este pensamento não lhe passou ao menos uma vez pela cabeça e terá a resposta.
Contudo devo admitir que o caos proporcionado pela matança desenfreada e irracional da guerra por vezes retira o melhor de uma nação. Logo após o término da guerra a Inglaterra viu-se destruída após quatro anos de intensos bombardeiros vindos do lado Alemão. Em uma nobre atitude os parlamentares ingleses resolveram prestar atendimento gratuito de saúde a todo cidadão inglês que necessitasse não importando suas posses. A justificativa para tal atitude era de que, se podiam mobilizar pessoas para matar alemães certamente poderiam gerar empregos e gastar dinheiro mobilizando pessoas para salvar vidas.
Eu? Continuo sendo militar e se um dia minha nação realmente precisar de meus braços para defendê-la o faria sem pestanejar, mas guardo vívida na lembrança a primeira vem que ouvi a canção do expedicionário brasileiro e o verso que não sai de minha memória.
“Por mais terras que eu percorra, Não permita Deus que eu morra Sem que volte para lá”
Trecho da Canção do Expedicionário de Guilherme de Almeida