Como criaturas amadas por Deus considero que muito do que temos e podemos fazer neste mundo advém da nossa característica mais nobre: A de sermos “Aspirantes a cidadão celestial”. Não raro vemos pequenos vislumbres da realidade divina nos cercando em nosso cotidiano, mas parece-me que certas coisas nos são propositalmente obscurecidas por Deus por motivos ainda não muito bem definidos para mim.
Esta semana estava eu conversando com outro integrante da corporação ao qual sirvo e trabalho sobre o caso de um funcionário que entregou um atestado médico supostamente adulterado. Este funcionário, responsável por questões jurídicas e disciplinares, havia pego um erro neste atestado médico e, após averiguações e diligências, solicitou o desligamento do funcionário que tinha entregue o atestado “falso”. Não pretendo entrar no mérito sobre se sua conduta foi assertiva ou não apesar de considerar o funcionário que corre risco de perder o emprego um ótimo profissional.
O que me causou escândalo foi o aparente prazer mórbido do dedicado delator em vislumbrar o erro e punir o culpado. Isso me levou a fazer consideração a respeito da nossa capacidade real para julgamentos.
A Bíblia é clara no que tange ao julgar o próximo. “Não julgueis, para que não sejais julgados” (Mt 7:1-5) , espressou nosso Senhor como que na esperança que, ao advertir-nos, estaria na verdade nos protegendo de algo. Do tentador? Da perdição? De nós mesmos?
Dentre muitas razões para não julgarmos alguém pontuo o fato de não conhecermos toda a verdade a respeito da pessoa ou caso pelo qual ela passa. O que nos torna no mínimo incompetentes para formular qualquer análize definitiva a respeito deste. Mesmo assim não é o que vemos todos os dias não é mesmo?
Quando tal poder divino é dado a um homem, cedo ou tarde este se corromperá e decidirá erroneamente sobre o futuro de seu próximo, de seu grupo ou de uma nação inteira. Temos genocídios ocorridos em várias partes do oriente, nossos indios foram dizimados em poucos anos de ocupação espanhola e portuguesa, professores chacinados por serem detentores do saber na China comunista ou ainda a limpesa “étnica” ocorrida friamente nos campos de Auschwitz. Certa vez o detentor do Nobel Elie Wiesel manteve uma conversa com um renomado rabino a quem dirigiu a pergunta que a muito lhe perturbava: “Rabino, como se pode acreditar em Deus depois de Auschwitz?”. Após um prolongado período em silencio o rabino respondeu com a voz quase inaldível: “Como se pode não acreditar em Deus depois de Auschwitz?”.