O Homem Elefante, uma breve história!

Por vezes leio histórias que conflitam a perspectiva de que somos criados pelo meio em que vivemos. Teoria amplamente desenvolvida e aplicada como verdade no mundo acadêmico. Peço licença humildemente para transcrever a história de um homem que contra todas as expectativas escolheu o amor ensinando-nos o que é ser “igreja”.
O Homem Elefante foi de fato uma pessoa, chamada Jonh Merrik, que viveu na Inglaterra do século XIX e morreu em 1890, aos 27 anos de idade. Não conheço uma ilustração melhor de conflito de valores entre dois mundos, para não mencionar o mistério eterno de um ser humano.
Merrik foi provavelmente o ser humano mais disforme que já viveu. Um distúrbio conhecido como neurofibromatose desenvolveu-se progressivamente desde sua tenra infância, transformando-o em uma aberração humana. Foi abandonado pela mãe quando tinha quatro anos de idade e enviando para um reformatório. Aos 14 anos, um apresentador de espetáculos de circo o descobriu e decidiu ganhar dinheiro com sua estranha aparência. Espectadores pagavam alguns centavos para entrar em uma tenda e olhar uma pessoa tão desfigurada que, por determinado ângulo, lembrava um elefante com sua tromba protuberante e camadas de pele com aparência de couro.
Certo dia, Frederick Treves, cirurgião no London Hospital, atravessou uma rua em direção ao circo depois de sair do trabalho, reparou na tosca representação de um homem elefante na lona de uma tenda e pagou um xelim ao apresentador para deixá-lo entrar. Viu uma criatura encolhida perto de um bico de Bunsen procurando aquecer-se, iluminada pela fraca chama azul do bico de gás. A figura encurvada, enrolada num cobertor, parecia a encarnação da solidão e do desespero.
Como se tivesse dando ordens a um cachorro, o apresentador berrou: “Levante-se!”. A criatura ergueu-se e deixou o cobertor cair, revelando a Treves “o mais repulsivo espécime da humanidade que já vi”.
Treves prossegue descrevendo as deformidades do Homem Elefante em detalhes clínicos: Uma massa óssea que se projeta de sua testa; pele esponjosa com a superfície cheia de fissuras, que se assemelha a couves-flores penduradas em camadas sobre suas costas; uma cabeça enorme e desfigurada com o diâmetro da cintura de um homem; a boca, um orifício baboso e deformado; o nariz, um pedaço de pele pendurada; uma bolsa de carne semelhante a um papo de lagarto pendurado em seu peito. O braço direito crescera o dobro do normal, com seus dedos curtos e sem função. Abas de pele com a forma de raquete ficavam penduradas em uma axila; pernas deformadas que só o suportavam caso ele se apoiasse em uma cadeira. Um cheiro nauseante era exalado das protuberâncias de pele esponjosa.
Como sua repulsa foi superada pela curiosidade a respeito das condições clínicas do homem, o Dr. Treves providenciou exames para John Merrik, já com 21 anos, em seu hospital. Por causa das deformidades na boca, Merrik balbuciava palavras ininteligíveis, e Treves imaginou que fosse retardado. Após tirar fotos e fazer diversas anotações, continuou tentando comunicar-se, mas em vão. Deu-lhe seu cartão de visita e devolveu-o à guarda do apresentador. No dia seguinte, a polícia deu uma batida no circo, e Treves pensou que jamais retornaria a ver o Homem Elefante. Por mais dois anos, John Merrik viveu no ostracismo, tratado como animal de circo e usado para divertir curiosos que, com freqüência, davam gritos de terror. Quando as autoridades belgas fecharam de vez o circo itinerante, seu tutor se aproveitou da parte de Merrik na venda de ingressos e enviou-o de volta a Londres.
Durante a viagem, os passageiros o atormentavam, levantando a borda de sua capa para espiar o corpo grotesco. Na estação de trem de Londres, policiais o resgataram para uma sala de espera isolada. Jogou-se em um canto escuro, murmurando palavras indecifráveis que os policiais estavam longe de compreender. Ele tinha apenas um raio de esperança: o cartão de visita do dr. Frederick Treves, que vinha guardando em seu bolso por dois anos. Treves respondeu ao chamado da polícia, encontrou Merrik encolhido e choramingando em um  canto e levou-o para a área de isolamento do hospital. Ele não havia comido nada desde que deixara a Bélgica. Treves pediu uma bandeja na lanchonete do hospital, mas a enfermeira que a levou, despreparada para tal visão, deu um grito, deixou a bandeja cair e saiu correndo do quarto. O paciente, acostumado a tais reações, mal notou.
Com o tempo, a equipe do hospital se acostumou com seu morador incomum. Banhos diários eliminaram os odores. Com a prática, Treves aprendeu a compreender a fala de Merrick. Para sua surpresa, descobriu que, longe de ser um retardado, Merrick era alfabetizado; na verdade era um leitor voraz. Tinha estudado a Bíblia, o Livro de Oração Comum (da Igreja Anglicana) e conhecia Jane Austen e Shakeaspeare. Treves escreve:
Seus problemas o enobreciam. Mostrava-se uma criatura gentil, amorosa e cativante sem  ressentimentos e sem nenhuma palavra cruel para quem quer que fosse. Jamais o ouvi reclamar. Jamais o ouvi lamentar de ter sua vida arruinada ou se ressentir do tratamento que recebeu nas mãos de seus insensíveis tutores. Sua jornada de vida tinha realmente sido uma via dolorosa, sempre uma subida árdua. Agora, no momento mais sombrio da noite e no caminho mais íngreme, achava-se, por assim dizer, em uma agradável estalagem, iluminada e acochegante.
Certo dia Treves consegui convenceu uma jovem viúva que trabalhava como enfermeira no hospital a dirigir a palavra ao seu hóspede dando-lhe “bom dia”. Após a saída da enfermeira Merrick curvou-se no canto da sala chorando copiosamente por aproximadamente uma hora. Passado este período Merrick agradeceu Treves dizendo que era a primeira vez que alguém lhe dirigira a palavra em muitos anos.
Quando Treves achou uma casa de hóspede disponível no campo, Merrick foi apresentado ao mundo natural, longe dos curiosos olhos humanos. Escutou o canto dos pássaros, espantou um coelho, fez amizade com um cachorro, observou as trutas saltando em um rio. Colheu flores silvestres e trouxe algumas amostras para Treves. A cada nova experiência de vida, ele reagia com o assombro de uma criança. “Sinto-me feliz a cada hora do dia”, repetia ele o tempo todo. Usando a mão esquerda, a única de funcionava, Merrick começou a construir modelos de prédios, colando com cuidado pedaços de papel colorido e cartolina. De seu quarto, de onde avistava a Igreja de St. Philip na esquina observava um novo prédio da igreja sendo erguido.
Usando as duas igrejas como modelo, trabalhou vários dias para criar a refinada maquete de uma catedral.  Denominava a nova igreja que surgia lá fora de “uma imitação da graça saltando cada vez mais para fora da lama”, chamando seu próprio modelo de “minha imitação de uma imitação”.
Depois de quatro anos de felicidade, a única felicidade que já conhecera, Merrick morreu enquanto dormia. Sua enorme cabeça caiu para trás em seu travesseiro e quebrou-lhe o pescoço, asfixiando-o. O hospital produziu moldes de gesso de seu corpo, a fim de registrar sua rara doença. Algumas peças ainda podem ser vistas no museu do London Hospital, juntamente com a maquete da catedral: “uma imitação da graça saltando cada vez mais para fora da lama”. Tal qual a vida de John Merrick.
Para aqueles que consideram o mundo visível como tudo o que existe, a questão reside em decidir se deveriam ter permitido que o Homem Elefante vivesse. Na filosofia Nietzchista, limitada a apenas um mundo, o Homem Elefante não tinha direito à existência, nenhum valor intrínseco, nenhuma “alma” que valesse a pena preservar. Por que valorizar uma evidente aberração da natureza? Melhor seria eliminar tal defeito da reserva genética.
O belo sempre desfrutou de recompensas além do alcance do feio, o forte sempre dominou o fraco, um pequeno número de abastados sempre viveu às custas dos pobres. Contra essa realidade, o Reino de Deus ergue uma bandeira de oposição divina. Jesus foi o primeiro líder mundial a inaugurar um reino com uma função heróica para os derrotados. Como disse Charles Supurgeon, pregador inglês e contemporâneo de John Merrick: “Sua glória foi ter posto de lado a própria glória. A glória da igreja é quando ela põe de lado sua respeitabilidade e dignidade e considera como sua glória, ajuntar os excluídos”.

Extraido da obra Rumores de outro mundo de Philip Yancey.
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