A TEOLOGIA EVANGELICAL – missão integral – oferece uma lente através da qual lemos as Escrituras Sagradas em busca de referenciais para a presença do cristão e da comunidade cristã no mundo: “Assim como o Pai me enviou [ao mundo], eu os envio”. A soteriologia da missão integral é o domínio de Deus, de direito e de fato, sobre todo o universo criado, através daqueles restaurados à imagem de Jesus Cristo, o Primogênito dentre muitos irmãos. A Salvação é o Reino de Deus em plenitude, no qual a vontade de Deus é realizada, concretizada em perfeição. A redenção pessoal/individual é apenas uma parcela do que o Novo Testamento chama “salvação”: o novo céu e a nova Terra.
A eclesiologia da missão integral é o novo homem coletivo. Deus não está salvando pessoas, está restaurando a raça humana. Estar em Cristo é não apenas ser nova criatura, mas também, e principalmente, ser nova humanidade; não mais descendência da Adão, mas de Cristo, o novo homem – homem novo. O caos do universo é fruto da rebeldia da raça humana em relação ao Deus Criador; a redenção do universo – Fazer convergir todas as coisas em Cristo – é resultado da reconciliação da raça humana com Deus, que estava em Cristo reconciliando consigo a humanidade. No cristianismo, a salvação é pessoal, a peregrinação espiritual é comunitária e nada, absolutamente nada, é individual. A igreja é a unidade dos redimidos que são transformados, de glória em glória, pelo Espírito Santo até que todos cheguem juntos à estatura de varão perfeito.
A missiologia da missão integral é a sinalização histórica do Reino de Deus, que será consumado na eternidade. A Igreja, o Corpo de Cristo, é o instrumento prioritário através do qual Cristo, o Cabeça, exerce seu domínio sobre todas as coisas no céu, na Terra e debaixo da terra, não apenas neste século, mas também no vindouro. A missão da Igreja é manifestar, aqui e agora, a maior densidade possível do Reino de Deus, que será consumado ali e além. O convite ao relacionamento pessoal com Deus é apenas uma parcela da missão. A missão integral implica ação para que Cristo seja Senhor sobre tudo, sobre todos, em todas as dimensões da existência humana: “O Evangelho todo, o homem todo”.
A antropologia da missão integral é a unidade indivisível do “pó da terra / fôlego da vida”, as dimensões física e espiritual do ser humano. “Corpo sem alma é defunto; alma sem corpo é fantasma”: “Cristo veio não só à alma do mal salvar, também o corpo ressuscitar”. A ação missiológica e pastoral da igreja afeta o ser humano em todas as dimensões: bio-psico-espiritual-social – a pessoa inteira em seu contexto, o homem e suas circunstâncias.
O querigma [evangelização] na missão integral é a proclamação de que Jesus Cristo é o Senhor, seguida da convocação ao arrependimento e à fé para acesso ao Reino de Deus. A oferta de perdão para os pecados pessoais é o início da peregrinação espiritual, porta de entrada para o relacionamento de submissão radical a Jesus Cristo, a partir do que a pessoa e tudo quanto ela produz passam a servir aos interesses do Reino de Deus, existindo e funcionando em alinhamento com seu caráter perfeito.
A proposta da missão integral como agenda ministerial para a Igreja é mais do que a mescla evangelismo pessoa e assistência social (geralmente como isca ou argumento evangelístico). O referencial da missão integral para a presença do cristão e da comunidade cristã no mundo é mais do que a construção e a multiplicação de igrejas locais, onde os cristãos se retiram do mundo e passam a exercer funções que a viabilizam – ela, igreja, instituição religiosa – como um fim em si mesmo.
A convocação da missão integral é para rendição ao senhorio de Jesus Cristo, para perdão dos pecados e recebimento do dom do Espírito Santo, a partir do que se passa a integrar um corpo, o corpo de Cristo, ambiente para a experimentação coletiva dos benefícios da cruz, responsável por transbordar tais benefícios ao mundo como anúncio profético do novo céu e da nova Terra. O caminho missiológico e pastoral da missão integral é afetivo e relacional, ao invés de metodológico e operacional; comunitário, em detrimento de institucional; devocional , em vez de gerencial.
A igreja é a comunidade da graça, comunidade terapêutica, agência de transformação social, sinal histórico do Reino de Deus, instrumentalizada pelo Espírito Santo enquanto serve incondicionalmente a Jesus Cristo, Rei do reis, Senhor dos senhores, a quem seja glória eternamente, amém.
Texto extraído do Livro Outra Espiritualidade, do pastor Ed René Kivitz, capítulo 10, páginas 55 a 57, mediante autorização prévia do autor.
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Toda vez que me deparo com os textos e pregações do Ed René eu paro para pensar sobre o meu papel neste contexto histórico cristão em que nos encontramos e sobre meu posicionamento e ações para ser um agente transformador.
Não precisa ser diferente, basta apenas procurar ser quem Deus sonhou para que fosse.
Fiquem na Paz.
soli Deo Gloria