Falar de igreja, porque não?

Mas é que o problema é bem mais sério. Bem mais,
bem mais…

Rafael Castro

Um dos motivos de eu começar o ano no Crentassos com um post de música e nem pincelar algo que tenha a ver com religião (apesar de que desconsiderar o papel da música — e da arte — na religião é, quiçá, motivo de apostasia), Deus ou igreja é que eu, Gustavo Nering, ando cansado da pobreza e falta de originalidade desse movimento do qual fazemos parte: a cristandade, cristianismo, a religião cristã ou os seguidores do nazareno (seja qual for o nome que você dê pra essa bagaça).

Várias coisas convergem pra essa pobreza igrejeira; a pior delas, e isso não é exclusividade da igreja (como quase todos os problemas da igreja), é que a igreja só se preocupa consigo mesma. Nossa palta sempre é os problemas da igreja; dificilmente a gente sai do universo cristão quando nos reunimos; por consequência dessa síndrome de umbigo, acabamos reproduzindo o modelo mundano de se preocupar somente consigo mesmo. Bonito, né?, exemplar!, e, definitivamente, redentor.

Não seria muito difícil elaborar um longo ensaio ou até um livro sobre esse cristianismo-centrismoI nosso de cada dia, mas isso acabaria nos levando ao erro que a própria denúncia aponta: pastores corruptos, mercado gospel, sermões motivacionais, auto-ajuda cristã — algum dos principais produtos desse centrismo da nossa síndrome de umbigo — são ferramentas eficientes e santificadas que tem a enorme capacidade de nos prender em nós mesmos e não se preocupar com o mundo lá fora.

Também não é difícil achar um argumento bíblico contra tal prática pois a própria pedra fundamental do discurso do filho do carpinteiro apontava o “amar ao próximo como a ti mesmo” que coloca o próximo na mesma altura que nós mesmos. Logo não existe nós ou eles, estamos todos juntos nessa bagunça; não podemos nos afastar dos outros e ficar falando só dos nossos problemas como se eles fossem exclusivos da igrejaII.

Minha solução é simples. Ampliemos nosso alcance. A igreja não é aquele lugar onde nos reunimos semanalmente; fazemos parte do Reino de Deus, é nosso papel como parte desse Reino trazer esses lampejos de eternidade de forma iluminadora, explícita, e restauradora. Somos porta-bandeira dessa liberdade plena que foi agraciada pelo divino desde que seu Reino foi inaugurado por Jesus depois da leitura de Isaías dentro do temploIII.

Cabe a nós tirar os olhos de nosso umbigo e conversar sobre o quer que seja afim de que o nome do Senhor seja louvado e assim concluo o que comecei no primeiro parágrafo. Pretendo nesse ano de 2013 não censurar minha escrita ao filtro de “isso não é bem um texto pro Crentassos” ao ser mais generalista e falar de história, política, livros, filmes, tecnologia e, aquilo que mais tenho prazer, música, sem precisar de uma desculpa, análise, ou paralelo cristão para isso. Basicamente vou postar o que dá na telha afim de espalhar a informação e as boas ideias (pois a meu ver, isso também é do Reino de Deus).

Que 2013 seja um ano mais rico, que nossa cultura não se limite a (e não separe) aquilo que rotulamos como cristão. E que Deus tenha misericórdia de nosso ser. Amém.

 

N O T A S

I. Cristianismo-centrismo é uma expressão que não existe porém é a melhor que achei. Cristiano-centrismo e cristo-centrismo eram as outras opções, porém uma se refere a Cristiano, uma pessoa, e por acaso, nome do fundador, chefe e amigo desse universo crentasso que escrevo; cristo-centrismo se refere a um conceito que considero certo, que é a centralidade em Cristo, base e fundamento da nossa fé. Por fim, fiquei com a palavra feia mesmo.

II. Afinal, pastor ladrão, evangélico picareta, político cristão corrupto não é muito diferente que qualquer outro ladrão, picareta ou político sem confessionalidade. Todos devem deixar sua prática destrutiva, tanto os religiosos como os sem fé declarada, separá-los só coopera pra que nós vivamos numa sociedade segmentada que não faz parte de um Reino integral e completo que veio pra tomar conta e não para julgar quais são os nossos prediletos. Ele é ladrão mas é cristão é algo que não entra em qualquer pregação de Jesus, dos seus seguidores ou dos que vieram antes dele.

III. Trecho de Lucas IV (NVI): “Jesus voltou para a Galiléia no poder do Espírito, e por toda aquela região se espalhou a sua fama. Ensinava nas sinagogas, e todos o elogiavam. Ele foi a Nazaré, onde havia sido criado, e no dia de sábado entrou na sinagoga, como era seu costume. E levantou-se para ler. Foi-lhe entregue o livro do profeta Isaías. Abriu-o e encontrou o lugar onde está escrito:

O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor.

Então ele fechou o livro, devolveu-o ao assistente e assentou-se. Na sinagoga todos tinham os olhos fitos nele; e ele começou a dizer-lhes: “Hoje se cumpriu a Escritura que vocês acabaram de ouvir”.

 

Kyrie eleison

A imagem que ilustra esse post é do espanhol Pablo Picasso, e se chama O Velho Violeiro.

Posted in Artigos and tagged , , .