Quanto custa, Paulo?!

Imagino que seja muito comum para quem vive de seu ministério, vez ou outra pensar sobre valores (financeiramente falando). Cobrar ou não cobrar, eis a questão!

No segmento musical isso fica ainda mais difícil de se responder. Atualmente a maioria dos ministérios musicais tem colocado preço eu seu trabalho. Alguns até tem cobrado o que seria um preço justo. Porém muitos acabam elevando os valores para cifras absurdamente incompatíveis com a pregação do evangelho (pelo menos do evangelho real)

Outro dia estava num desse  congressos de arte cristã, quando um dos preletores me contou que, num vôo que havia viajado recentemente, acabou sentando perto de uma dessas celebridades da músicas gospel. Acabaram conversando e no meio do assunto esse preletor lhe perguntou se não achava que era alto demais o valor ele cobrava para “ministrar” o louvor na igrejas. A celebridade então disse: – Sim eu acho! Mas o que eu posso fazer? A gente pede e a igreja paga! Então a gente aceita e vai!

Por muito tempo eu achei que os artistas cristãos eram culpados por transformarem as cifras musicas em cifras numéricas. Continuo achando que ele tem culpa sim. Mas depois de ouvir essa história, comecei também a pensar em o quanto a igreja é culpada disso também.

A primeira coisa que quero dizer sobre isso é que não acho errado o artista cobrar pelo seu trabalho. Muitos artistas cristãos vivem apenas do que a igreja lhes paga. Assim como um pastor recebe seu salário para pastorear, um artista deve receber seu cachê para se apresentar numa igreja. Porém duas coisas deveriam ficar claras: primeiro se o que o artista em questão está vendendo é seu trabalho ou seu chamado. Segundo se a igreja o está pagando para que ele venha porque prega lago relevante ou apenas para lotar a igreja, pois seu nome está em evidência na mídia gospel.

Os artista cristãos tem uma mania feia (pelo menos para mim) de chamar o seu trabalho de chamado. Ora, se é trabalho, merece ser remunerado, afinal, o trabalhador é digno do seu salário. Não tem nada de errado nisso. Agora se é chamado, tem a opção de ir ou de ficar, mas não de cobrar. Pois chamado procede de Deus e se Ele chamou, Ele mesmo vai suprir, afinal, o trabalhador é digno do seu salário.

Em contrapartida eu vejo como as igrejas tratam esse mesmo artista. Quando a gente paga alguém para animar nossa festa (um palhaço por exemplo), temos o direito de “cobrar” certas coisas, implícitas no contrato. Ao meu ver, muitas igrejas hoje contratam palhaços para seu entretenimento. E se você quiser trabalhar meu caro, vista-se já com seu macacão engraçado e nariz de palhaço, caso contrário outro o fará e você ficará de fora da festa. Mas se o artista preferir o método da oferta (ou seja, ele vai porque é seu chamado e se a igreja quiser, lhe dá algum dinheiro), esse artista corre o risco de ser muito mal remunerado. A triste realidade dos fatos coloca o artista em questão entre a cruz e a cifra.

A segunda coisa que quero dizer é que se você é um artista e cobra pelo seu trabalho na igreja e acredita que está cumprindo seu chamado, quero lhe fazer uma pergunta: Da onde vem o seu sustento? Sempre que posso, faço essa pergunta por ae e as respostas variam conforme a profissão de cada um. Indiferente da profissão, a resposta sempre estará errada. Nosso sustento não vem do que a gente faz. Nosso sustento só pode vir do Senhor! Se dependo do que eu faço então, naturalmente com o passar do tempo, o que eu faço ficará mais caro, pois minha vontade de ter depende do meu trabalho. Agora se dependo do Senhor, com o passar do tempo, estarei mais acessível para cumprir meu chamado, pois sei que o Senhor suprirá minhas necessidades sempre. Terei vontade de ter muitas coisas e algumas delas eu terei. Contudo jamais será porque eu conquistei mas porque o Senhor quis me abençoar. Além disso, quando cobramos da igreja para nos apresentarmos, a impedimos de exercitar sua generosidade. Se a igreja paga, pode impor, mas se ela oferta, só pode amar. Dessa forma ambos são abençoados e nunca fica a impressão de “não valer a pena”, como muitas vezes ouvi de igrejas depois de contratar artista “x” ou “y” para “ministrar” para alguma culto festivo.

Já tive muitas surpresas (boas e ruins) por não cobrar para “ministrar” em igrejas. As ofertas sempre acabam sendo uma forma de ministração de Deus na minha vida. Teve um tempo em que me cansei disso tudo e decidi que passaria a cobrar para “ministrar”. Então investi um tempo pensando e orando sobre o que seria um valor justo. Tive uma resposta que veio de Deus: -Cobre o que Paulo cobrava. Com isso penso que nosso desafio como artista, pode ser, confrontar o sistema gospel do “toma lá da cá” com o sistema cristão “toma lá sem dar”. Se hoje faltam milagres é porque talvez faltem homens que vivam por eles.


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