Introdução ao Livro de Josué – Com o pé na promessa
O livro de Josué retoma a narrativa de Deuteronômio, quando Moisés, impedido de entrar na Terra da Promessa (Dt. 32:48-52), é substituído por Josué como novo líder do povo de Israel (Dt. 31:23).
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Josué é um personagem importante na história da nação de Israel, pois é lembrado como auxiliar de Moisés (Dt. 31:11), um dos doze espias (Nm. 14) e como general de sucesso (Ex. 17). Por isso, durante a condução do povo à entrada na Terra Prometida, o livro recebe corretamente seu nome, porém devemos nos atentar que o livro trata sobre Deus e suas obras e não sobre Josué.
Apesar de haver muitas teorias sobre a composição deste material, este estudo aborda a teoria da data mais antiga para os registros contidos neste livro. Há algumas razões para isso:
- Josué 16:10 relata que os cananeus não foram expulsos de Gezer e “até hoje” vivem no meio do povo de Efraim. Porém I Reis 9:16 diz que o faraó conquistou Gezer e matou todos os cananeus que viviam ali. Isto indica que Josué foi escrito antes da época de Salomão.
- Josué 8:32 sinaliza a presença de escribas no povo de Israel, e não há razao para não admitir que o próprio Josué tenha feito estes registros.
- O período do profeta Samuel é outra possibilidade, pois o amplo uso da expressão “até hoje” sugere que tenha havido um espaço de tempo entre os fatos narrados e o registro escrito.
Embora o livro de Josué narre a conquista da Terra Prometida (Js. 21:43-45), o relato feito em Juízes 1:1 deixa claro que havia muito ainda a ser feito. O que deve ser entendido à luz do contexto histórico é que Deus cumpriu sua promessa de colocar Canaã sob controle israelita, pois as principais nações que a ocupavam foram derrotadas e expulsas.
É importante destacar que neste período histórico houve um vácuo de poder nesta região. Tanto os egipcíos quanto o povo hitita estavam enfraquecidos pelas longas batalhas que travaram, e não havia ainda outra nação poderosa para tomar o controle da região. O império assírio viria a ter proeminência apenas dali a alguns séculos, portanto o povo de Israel pôde, neste intervalo, tomar a terra de canaã de nações mais fracas, que não ofereciam uma resistência inabalável.
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O livro de Josué mantém o foco na aliança de Javé com o povo hebreu, conforme o texto em 1:2-6, e pode ser dividido da seguinte maneira:
- O chamado de Josué – 1:1-9
- A entrada na terra – 1:10-5:12
- A conquista da terra – 5:13-12:24
- A divisão da terra – 13:1-22:34
- Os últimos dias de Josué – 23:1-24:33
A primeira parte do livro relembra o povo sobre a fidelidade e obediência que deveriam prestar a Deus.
Na segunda parte, conta-se em detalhes a estratégia dos espias em Jericó, porém não pela estratégia em si, mas para revelar o que Deus já havia estabelecido: “o Senhor entregou a terra em nossas mãos” (2:24).
A terceira parte do livro é a mais conhecida, pois relata as batalhas que os israelitas enfrentam para a conquista da terra. Entretanto, o que deve ser destacado que neste trecho é que Javé lutará capacitará o povo hebreu na conquista. É Javé quem dá a vitória ou a derrota, conforme o relato do capítulo 7. Neste episódio o compromisso com a aliança é ensinado de maneira assustadora.
A quarta parte é a maior, e relata a divisão da terra entre as tribos de Israel. É a maior parte do livro pois demonstra em detalhes o cumprimento da promessa de Deus em relação à alianç estabelecida com o povo hebreu.
A quinta e última parte narra os dias finais de Josué e a renovação do pacto em Siquém.[/tab][tab title=”Propósito e Mensagem”]
Nos relatos da conquista no livro de Josué podemos encontrar os seguintes temas:
- A fidelidade de Javé no cumprimento de suas promessas
- A importância da obediência à aliança
- A conquista e divisão da terra
Embora o livro cite com muita frequência o nome de Josué, os relatos nele contidos não são sobre Josué. O livro também não trata sobre as estratégias militares envolvidas na conquista de Canaã, pois o texto deixa claro que toda estratégia veio de Javé.
Portanto, o livro tem a intenção de transmitir a idéia de que Javé comanda seu povo e cumpre suas promessas, a despeito do comprometimento do povo com a aliança firmada.
A aliança e a terra
A terra representa de forma visível a eleição de Israel por Javé e a concretização da aliança firmada com seu povo. Josué segue a teologia de Deuteronômio quando estabelece a terra como benção de Javé aos hebreus. A terra tinha um papel fundamental no Antigo Testamento pois, sempre que o povo merecia castigo, a ameaça era a perda da terra e sua expulsão. O livro de Josué mostra de forma brilhante a promessa de Javé se cumprindo, quando mostra detalhadamente a divisão da terra entre os israelitas.
Consagração à destruição
A consagração à destruição em Josué também é encontrado em Deuteronômio (Dt. 7:1-11 e 20:10-18) e instituída em Josué 6:17-19. O termo se refere à consagração de pessoas, cidades e coisas para serem destruídas quando da invasão pelo povo de Israel. Este processo causa certo embaraço sob o ponto de vista ético-cristão, porém os textos deixam muito claro as ordens de Deus para sua efetivação. O que devemos considerar é o Antigo Testamento trata o juízo de Deus sob a justiça retributiva, e esta era executada por meio de outros povos. Ou seja, Javé usou o povo de Israel para executar seu juízo sobre as nações cananéias de acordo com Deuteronômio 9:5. Outro motivo para a execução da sentença de consagração a destruição era a resistência à ação de Javé conforme os textos de Js. 9:1-4, 10:1-5 e 11:1-5. O Novo Testamento expande este conceito, quando cita que o único pecado imperdoável é a blasfêmia contra o Espírito Santo, ou seja, a resistência máxima à ação de Deus, que leverá o indivíduo à separação eterna de Deus.
Soberania divina
Não há como tirar o elemento sobrenatural do livro de Josué sem comprometer sua teologia. Assim como Êxodo, Josué destaca a intervenção divina na história para cumprimento do seu propósito. Os acontecimentos descritos não são ocorrências casuais dos deuses, como na literatura politeísta pagã. O livro de Josué, depois de quatrocentos anos, culmina com o cumprimento da promessa feita a Abraão, um imigrante vindo da Mesopotâmia para Canaã, que forma um pequena família, e recebe a promessa de que todas estas terras seriam de sua grande descendência.
Solidariedade comunitária
O trecho de Josué 7 nos conta acerca do juízo executado sobre Acã e toda sua família, pois ele havia desobedecido as ordens dadas quando houve 36 baixas de Israel na batalha de Ai. Para nosssa mentalidade individualista isso parece injusto, mas o conceito de identidade coletiva era muito forte em Israel. Este conceito fica evidente na lei do levirato (Dt. 25:5-10) e do resgate de terras (Lv. 25) onde a familia desamparada do clã recebia auxílio. Entretanto, da mesma forma onde o clã era abençoado por causa de um membro, todo clã também sofreria se um membro desobedecesse as estipulações da aliança. O objetivo era eliminar toda continuidade da desobediência, além de punir todos aqueles que, embora não sendo culpados, partilhavam do mesmo ideal do desobediente.
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