Dando prosseguimento ao ousado projeto de lançar três músicas inéditas por mês para celebrar os 30 anos de banda, chegamos ao terceiro mês e com ele a Banda Resgate lançou as faixas “Eu ainda tenho fé”, “Amor é o que se dá” e “Queda”.
Novamente a gente observa um equilíbrio temático e musical nas canções: uma mais rock’n roll, outras duas mais leves. As letras excelentes, nos provocando reflexões e emocionando, como poucos conseguem fazer.
A que eu mais curti foi “Eu ainda tenho fé”.
A música mais rock’n roll desse mês começa com um refrão que gera estranheza à primeira audição
E eu ainda tenho fé
De que nada vai mudar
Tento olhar pra cima
Não importa a sina,
nem onde é que eu vim parar
Porque nossa ânsia é por mudança, nosso discurso é de mudança, redenção, restauração… gera incomodo alguém dizer que tem fé de que nada vai mudar.
Vem o primeiro verso:
As mesmas contas vencem todo mês
E outras novas chegam pra vencer
O mesmo amanhecido pão francês
Clichês são repetidos na tv
Tá vendo como precisamos de mudança? A rotina nos sufoca, nos agride silenciosamente. Alguns desagradáveis ciclos como o das contas que nunca acabam, as mesmices monótonas do dia a dia, as besteiras dos discursos televisivos, muitas vezes tiram nossa alegria, nos oprimem. Isso não seria motivo para querer que tudo mude??? Seguindo…
Se um pobre alguém decide se entregar
Calvino vai para as mãos de um capataz
Se um destino certo há de chegar
Deixe Armínio descansar em paz
Show de bola. Crítica linda aos debates religiosos que se fecham em questões teológicas em detrimento da prática de amor do cristianismo. Discursos por vezes usados como arma e sem qualquer misericórdia.
Chega o refrão de novo e a gente começa a entender essa “fé de que nada vai mudar”. Porque se eu olho pra cima independente da onde eu vim parar é porque eu quero mirar em algo maior, não quero que essas circunstâncias me mudem. Eu não quero esquecer que o que não pode mudar é anterior à rotina opressora ou às distorções religiosas que nos desanimam. O que está em cima, a razão da própria fé, é que não vai mudar.
Pausa na letra para um solo de guitarra lindo do Ozielzinho, que é a participação especial da faixa, para novamente um refrão, mas com uma letra diferente:
E eu ainda tenho fé
Que esse mundo há de acabar
E eu reparto o pouco
Vou seguindo o louco até o novo começar
É isso! Lindo! Leve e momentâneas são nossas tribulações! Mais do que mudar, essas tristezas vão acabar! Enquanto isso seguimos na insistente busca por obedecer a loucura do evangelho, até que o novo comece. Não é lindo?
A segunda faixa, que tem a participação do Paulo Cesar Baruk, chama-se “Amor é o que se dá”.
Com uma pegada pop, a letra é simples e direta, trata da diferença entre amor e paixão.
A paixão é frágil
Companheira da ilusão
É coisa que se sente, mente
No enganoso coração
A decisão é firme
É amiga da superação
É coisa que se doa, boa
É o sentimento da razão
O amor é o que se dá
Sacrifício que se faz
E aquilo que depois se tem
É a decisão de um outro alguém
O amor é o que se dá
Sacrifício que se faz
É coisa que se planta, encanta
Alguém que venha a nos amar
A paixão é um sentimento, ou seja, ela é enganosa, está sujeita à mudança do humor, do temperamento, da circunstância. A paixão passa.
Já o amor é decisão. É uma escolha que está ciente das consequências desse compromisso. E, importante, o amor se dá, ou seja, não se vende, nem se troca. O que podemos esperar (não exigir) é que quem recebeu essa semente de amor se encante e decida também amar.
A terceira faixa, “Queda”, tem novamente participação do quarteto de cordas Palavra Tocada, que acompanha um “voz e violão” bem intimista, com uma poesia sobre a queda do homem e como ela nos desligou da Vida
As costas pro sol
E o rosto pro lado escuro da lua
A boca no anzol
E pés que se afastam do mar e sua vida
Cheia de oxigênio pra quem sabe respirar
Guelras pra respirar
Os olhos no mal
E os ombros carregam o peso da culpa
A boca no mel
E o cérebro aficcionado na imagem nua
Bomba de hidrogênio pra quem sabe ativar
Perfeitos pra ativar
A grana na mão
E o que tem valor na verdade se encerra
Desejo refém
E a escrava vontade é quem move as mãos contra a terra
Mãe de todo alimento pra quem sabe cultivar
Feitos pra cultivar
A queda gerou isso, um desligamento com o universo. O homem perde seu relacionamento com o Eterno, vira refém dos seus desejos, nega seu lugar na criação… toda essa ruptura só é desfeita no sacrifício de Cristo, que reconciliou consigo todas as coisas, inclusive a nós, desde a eternidade.
Carregamos na carne as consequências da queda, até que tudo esteja concluído e sejamos 1 com Ele.
Com esse projeto o Resgate tem não apenas nos presenteado com belas canções e reflexões, mas também estabeleceu um estado de ansiedade nos fãs, que agora tem o dia 5 marcado no calendário como data para conhecermos as novas canções que entrarão para nossa trilha sonora.
Até mês que vem, Resgate!
Hernani Correa é paulistano, decacampeão brasieleiro (segundo palmeirenses), cristão e um dos integrantes do podcast Telescópio.