#PostDoLeitor – O Jesus de Terra vermelha

Me perguntaram sobre os motivos que levaram Jesus a transformar água em vinho em uma festa de casamento. Eu comecei a responder fazendo uso da exegese, mas no meio da resposta eu apaguei tudo para escrever uma adaptação da passagem de João 2. Por que fiz isso? Porque isso trouxe uma alegria ao meu coração que excedeu qualquer sentimento de interpretações que já ouvi acerca da passagem.
bodas-canaicono-canaO JESUS DE TERRA VERMELHA
Wellington e Ivaneide optaram por uma cerimônia simples. Uma cerimônia de casamento na casa do Seu Casemiro, um dos poucos moradores da região que possuía uma casa com um quintal bacana, com piscina e churrasqueira, apesar do chão batido que predominava no terreno.
“É simples, gente, mas vai ter carne e cerveja à vontade até o dia raiar” — dizia o noivo que nunca tivera a oportunidade de pagar por uma mesa farta para os amigos. Se não fosse pelo tio Zé, fazendeiro de Ilhéus, que o presenteou com dinheiro, Wellington nunca teria condições de realizar a festa de casamento.
Eles se casaram às 11:00 da manhã. O juiz de paz mal havia dito que o noivo podia beijar a noiva e Tião, o churrasqueiro, já estava gritando: “Já tem carne, já tem carne”.
Emanuel chegou cedo. Sentou com uns poucos amigos e se alegrou vendo tanta gente alegre na festa de Wellington e Ivaneide.
Ás 20:00, quando o samba que era tocado ao vivo já não permitia que ninguém ficasse com o esqueleto parado, Maria (muito amiga da noiva), traz a notícia que a Brahma tinha acabado. Tudo indicava que a distribuidora não havia entregado a quantidade de grades de cerveja que Wellington tinha pedido.
Os convidados tentaram dizer a Wellington que estava “tranquilo”. Mas Wellington sonhou com o dia em que a carne, a gelada e o samba iriam até o dia amanhecer. Sem dinheiro para comprar mais grades de cerveja, Wellington deu um sorriso amarelo para os amigos e disse: “Só nos resta aproveitar o samba, né?”
“Dá pra fazer alguma coisa, filho?” — perguntou Maria a Emanuel. Emanuel olhou para as crianças que permaneciam na piscina mesmo sem sol raiando. Elas aproveitavam a caixa cheia de água que geralmente só viam na tela da televisão. Ele olhou para o grupo de ajudantes de pedreiro que tocava e brilhava no palanque montado sobre o chão batido. Ele olhou para as moças vítimas de violência sambando. Ele olhou para os pais de família que davam gargalhadas com as piadas sem graça do Everaldo. Olhou para homens e mulheres que riam, dançavam, conversavam tão alegremente… Olhou para Wellington e Ivaneide.
“Mãe, pede ao Tião pra trazer alguns baldes de águas e bastante gelo” — disse Emanuel. A água amarelou e Wellington chorou. A festa iria até o dia amanhecer. A cerveja? Ficou melhor que Heineken.
Motivo para transformar água em vinho em Caná? Pensa aí!
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Esse texto foi escrito pelo leitor do blog e amigo Saulo Kohler
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