Diariamente eu recebo perguntas de jovens preocupados com a acusação que virá em consequência ao fato de relacionarem-se com pessoas de outras religiões, o que seria, segundo algumas lideranças evangélicas, a caracterização, neste ato, o temido JULGO DESIGUAL. Mas o que seria, portanto, o tal JUGO DESIGUAL que é alardeado como carimbo final para a condenação eterna de todo e qualquer jovem cristãos?
Tão importante quanto saber o que é ou não é o JUGO, é importante salientar uma detalhe que refere-se também a esse assunto, mas é tão ignorado quanto o próprio conceito, e é este: O Correto é JUGO e não JULGO como escrevem alguns. JULGO com a letra L entre o primeiro e o ultimo par de letras, transforma o JUGO, que é uma peça de madeira colocada sobre a cabeça dos bois e que os atrela à uma carroça ou arado, também conhecido, em algumas regiões do Brasil, como Canga , na 1ª pessoa do singular do Presente do Indicativo do verbo JULGAR. Proseguindo.
De acordo com a tradição evangélica brasileira, qualquer membro de uma instituição religiosa cristã que se une em um relacionamento amoroso com outra pessoa que não tenha a mesma prática de fé ou ainda em outros casos mais graves, que não seja da mesma instituição religiosa, está incorrendo no pecado de JUGO DESIGUAL, se utilizando do texto de 2 Coríntios 6.14:
Ora, assim como em muitos outros casos, há a falta de capacidade interpretativa de criar uma doutrina proibitiva e limitadora que afeta diretamente a vida cotidiana de cada um dos cristãos envolvidos, a partir de uma unica frase na bíblia. Lendo um algumas palavras a mais, temos uma compreensão um pouco mais abrangente deste caso:
“que sociedade pode haver entre a justiça e a iniquidade Ou que comunhão, da luz com as trevas? Que harmonia, entre Cristo e o Maligno? Ou que união, do crente com o incrédulo? Que ligação há entre o santuário de Deus e os ídolos?”
O texto bíblico não pode ser avaliado independentemente do contexto histórico em que foi escrito, para não cairmos em erros absurdos como os que algumas instituições religiosas caem ainda hoje, abrindo mão de pensar sobre o texto bíblico e limitando-se a repetir regras burras que não fazem sentido na pratica e muito menos servem ao seu intuito original, a saber, adorar a Deus e são apenas estratégias de dominação por medo da danação que os pastores se utilizam para conduzir seus rebanhos de acordo com suas próprias conveniências, abrindo mão de serem, de fato, pastores.
O apostolo Paulo fala sobre a associação que vai, simbolicamente, trazer para dentro do templo do Espírito Santo, coisas que desagradam a Deus, como no antigo testamento, por muitas, os judeus fizeram, desagradando a Deus com isso ao romperem com a proposta de serem povo de um único Deus.
A logica usada pela maioria dos lideres ao proibirem um relacionamento assim é a de que existem dois tipos de pessoas, as CRISTÃS e as NÃO-CRISTÃS e qualquer associação entre essas duas classes é um erro que supõem, como já disse, em alguns casos, que SER CRISTÃO é ser membro de uma igreja evangélica ou ainda pior, da mesma igreja evangélica em que está o candidato a esse relacionamento, e essa mentalidade é exatamente o que caracteriza uma SEITA, a de que “só é salvo quem pensa teologicamente da mesma maneira que eu”.
Se pensarmos que a salvação está apenas e tão somente associada a pessoas que tem uma teologia idêntica a nossa, acabamos por diminuir o próprio Deus à nossa compreensão teológica, colocamos Deus dentro de certos limites, os quais dominamos, e acreditamos que qualquer coisa diferente daquilo é uma heresia, acreditamos, com isso, que Deus pode ser observado, como um biólogo observa um animal num laboratório, tratamos Deus, como uma coisa que podemos manipular, ou na melhor das hipóteses, que compreendemos por completo. Que ingenuidade, não?
Ainda sobre as pessoas CRISTÃS e NÃO-CRISTÃS, temos mais um problema grave. Partindo da lógica que a conversão é um processo de transformação que se inicia no momento em que temos consciência do sacrifício de Cristo e aceitamos a ética cristã como fundamento para nossas vidas e termina apenas no final da vida, pois se Cristo é o exemplo para o cristão seguir, e nunca houve ou haverá um homem igual a Cristo, logo, todo cristão estará sempre, por mais evoluído que seja, rumando ao alvo e tudo no mundo que é BOM ou BELO tem influencia direta do próprio Deus, não haveria, portanto um PLENO CRISTÃO ou um PLENO NÃO-CRISTÃO, mas um gradual que vai do ANTI-CRISTO até o CRISTO e nos estamos dispostos de maneira dispersa entre um ponto e outro dessa grade. Ninguem no mundo não teve nenhuma influencia de DEUS assim como ninguem no mundo é um perfeito cristão.
“Então, posso namorar com quem eu quiser, Barba?”
Muita calma nessa hora, jovem, pois diante da euforia da juventude é que acontecem problemas que iremos carregar para o resto da vida.
Ter um relacionamento romântico com uma pessoa que não é cristã pode sim ser um problema muitíssimo grave que gerará muita dor de cabeça ao longo da sua vida, mas pasmem… NÃO É PECADO (não como se prega por í, pelo menos). Pense comigo.
O Cristianismo é uma ideologia que vem sendo deturpada ao longo dos seculos e cada vez mais rumamos para um cristianismo secularizado que não tem nenhuma importância real no final das contas, na sua vida prática, seria apenas um simbolo ou um titulo pelo qual você seria designado, mas não lhe faria diferente em nada de outras pessoas, assim como muitas outras ideologias ao longo do mundo, mas para efeito didático, vamos pensar em uma ideologia que chama muito a atenção hoje em dia, como por exemplo, o VEGANISMO.
Veganismo, para quem nunca ouviu falar, é a filosofia de vida motivada por convicções éticas com base nos direitos animais, que procura evitar exploração ou abuso dos mesmos, através do boicote a atividades e produtos considerados especialistas. um VEGANO não usa nada que tenha sido produzido a partir ou com o auxilio de alguma prática que oprima algum animal. Carne, roupa com couro legitimo, remédios ou cosméticos testados em animais, entre outras coisas assim, são proibidas para eles por questões ÉTICAS. Agora, imagine uma VEGANA que conhece um cara numa balada, acha ele bonito e divertido e resolve investir num relacionamento mais serio que apenas uns beijos e ao conhece-lo mais intimamente, descobre que o cara é um CHURRASQUEIRO que não passa um dia sem comer carne. Qual seria a reação dela? As opções são a) Ela abre mão do relacionamento por que é inadmissível para um VEGANO matar animais para comer os seus cadáveres e mesmo ela gostando muito do cara a principio, ao descobrir isso, todo sentimento que ela tinha por ele se tornaria em raiva ou pena por ele ser uma criatura assim tão cruel e ignorante sobre os direitos dos animais, ou b) Ela vai jogar toda a sua ética que fundamenta seus relacionamentos, suas lutas, suas praticas de consumo, enfim, TUDO, no lixo, em nome de um relacionamento amoroso, o que me faria crer, que na verdade, essa ética estava suspensa por uma linha tão fina e tão sensível que foi ao chão em troca de um romance.
Ora, com um cristão, e exatamente a mesma situação do exemplo anterior. Se o seu cristianismo é LEGITIMO e a ética cristã fundamenta toda a sua vida, suas praticas cotidianas de relacionamentos, sua visão politica, sua pratica de consumo, etc, ao se relacionar com uma outra pessoas, que eventualmente, tenha uma outra ética que se choque com a sua, é preciso saber se você irá abrir mão da sua ética cristã, mostrando que efetivamente, o seu cristianismo não é legitimo, ou, em nome da sua ética, ou irá, abrindo mão do relacionamento, estabelecer limites de flexionamento de suas práticas.
Todo relacionamento, é claro, é feito de imposições e concessões, se você só impõem ou só abre mão, ou seja, não equilibrado, seu relacionamento é problemático e precisa de tratamento, contudo, todo mundo precisa estabelecer um limite, o qual não pode ser passado, e neste limite, se encontra EXATAMENTE, sua ética, seja ela cristã, vegana, etc.
Assim, considero que seja ainda mais grave essa nova maneira de pensar que aqui apresento, do que a antiga em que qualquer relacionamento com pessoas de outra religião seria um pecado, pois no conceito de PECADO o relacionamento seria barrado pelo MEDO DA CONDENAÇÃO que viria em contraria Deus, e nesta outra, o relacionamento seria barrado por uma decisão consciente e completamente autônoma, que coloca a ética cristã (e consequentemente, o próprio CRISTO, fundamento único da ética cristã) como um elemento superior, inegociável, mesmo diante da possibilidade de um relacionamento, seja ele qual for, traga-me o beneficio que for, Cristo, e não o medo do inferno, será sempre meu foco e primeiro objetivo.