(Esse texto é uma releitura minha de um texto do Professor Jonatham Menezes da FTSA e que estudei esta semana..)
Temos pregado o Reino de Deus ao mesmo tempo em que criamos o nosso próprio? Se for o caso com certeza na hora derradeira vamos acabar escolhendo o nosso Reino, se é que já não escolhemos. Amamos tanto nossa fé que esquecemos uma outra coisa: Amor à vida, sim! Cultos e teatros sem substância, não! Quando profetas como Amós, criticam os cultos, que afinal eles estão criticando?
“Não suporto os encontros religiosos de vocês. Estou cheio dos seus congressos e convenções. Não me interessam seus projetos religiosos, seus lemas e alvos presunçosos. Estou enojado das suas estratégias para levantar fundos, das suas táticas de relações públicas e criação da própria imagem. Não suporto mais sua barulhenta música de culto ao ego. Quando foi a última vez que vocês cantaram para mim? Alguém aí sabe o que eu quero? Eu quero justiça ␣ um mar de justiça. Eu quero integridade rios de integridade. É isso que eu quero. Isso é tudo que eu quero (Am 5.21-24 )
A religião criticada por Amós é covarde e superficial, porque marginaliza o que realmente importa e põe no centro o menos relevante. Confunde retidão com justiça própria e santidade com abstinência; faz dos sacrifícios e rituais o baluarte da espiritualidade, dissociando-a completamente da vida, da misericórdia e da sede por justiça. Afirma uma sede incontrolável por Deus e seus mandamentos, mas é incapaz de reconhecê-lo no próximo, no diferente, na samaritana à beira do poço em meio ao caminho.
Daí, muitos desses encontros, congressos, convenções e projetos religiosos aos quais se refere o profeta, terem se tornado, para Deus, um negócio insuportável e indigno de atenção. Mais estar em Deus é deixar ser movido e tocado pelas coisas que mobilizam o Seu coração; é desejar ardentemente que Sua vontade seja feita tanto aqui na terra, como no céu; é lutar para que a justiça corra como rio que não seca; é buscar viver em integridade e afastar ao máximo do nosso caminho a hipocrisia. Mas, como? E seria isto outra forma de religião? Não sei, talvez, quem sabe…
Não é novidade para ninguém que muitos sistemas religiosos se alimentam da hipocrisia e não subsistem sem ela. Muitas igrejas têm sido até que provem a si mesmas e ao mundo o contrário, ao invés de centros de misericórdia e compaixão e comunidades de reino, covis de hipocrisia, onde o livre pensar é reprimido e o discordar é tratado como pecado. Principalmente quando o questionamento é com líderes. É claro que também existem os rebeldes…
A hipocrisia vai, dessa forma, recebendo outros nomes, e vai sendo ornamentada com outras vestes, mais sofisticadas quem sabe e se torna peça indispensável ao bom funcionamento da engrenagem, mascarada pelo discurso batidos como a privatização da espiritualidade e a religião de consumo, que congrega e agrega a massa dos que querem distância do conflito e que relega aos ditos apóstatas, hereges e perdidos o lado trágico e sombrio da existência.
A hipocrisia tenta eliminar o sofrimento a todo custo e promover uma espécie de narcótico gospel como sustentáculo para uma fé e age para aliviar a dor; que tem desconfiança em relação ao mistério, ao desconhecido e às incertezas; que pensa que testemunhar é igual a fazer propaganda de sua fé, e se distancia da prática da justiça por estar tão ofuscada com as celebrações. Essa fé filha da hipocrisia. A voz de Jesus ecoa como gritos em uma terra de surdos.
No fundo, todos nos servimos ao sistema religiosos, até os que se encontram em processo de libertação de suas entranhas. Somos um pouco como os fariseus ou hipócritas, o que seria um total absurdo e falta de espiritualidade, para muitos. Se toda mulher é meio Leila Diniz, então todo crente é meio hipócrita e, por natureza, religioso (no sentido que Amós abomina), até que prove o contrário lutando contra tal orientação.
Nas palavras do profeta Amós, temos indícios ou ecos da Revelação de um constante manifesto de repúdio divino contra a escolha de tantos em fazer do farisaísmo e da hipocrisia sua morada permanente. Agora pergunto(para você e para mim mesmo):
Quem será o primeiro a ter coragem de vestir a carapuça?
ousará romper com as correntes (frouxas ou apertadas) da hipocrisia?
Quem será capaz de avançar uma milha mais rumo a uma entrada em um cristianismo não-religioso?