Vida cura vida – Porque na comunidade nos ferimos, mas também nos curamos

Este é meu segundo texto sobre uma música da Campanha de Natal da IBAB. No anterior, falei sobre a música e campanha Um nós, e agora trago a música de 2021.

De onde vem o pulsar que transforma a semente em flor? | De onde vem o poder que soprou existência ao pó? | De onde vem essa fome que grita por eternidade? | De dentro vem, o Vento vem. | Furioso como as ondas do mar | Generoso como o sol da manhã | Força que me rasga o peito | Fôlego que move a alma | Tempestade de amor sobre nós | Sua bondade é como chuva | Força que me rasga o peito | Fôlego que move a alma | De onde vem essa sede que grita por eternidade? | De dentro vem, o Vento vem | Furioso como as ondas do mar | Generoso como o sol da manhã | Força que me rasga o peito | Fôlego que move a alma | Tempestade de amor sobre nós | Sua bondade é como chuva | Força que me rasga o peito | Fôlego que move a alma| Vida soprar, vida criar | Vida nascer, vida crescer | Vida amar, vida cuidar | Vida gerando vida | Vida plantar, vida colher | Vida servir, vida comer | Vida partir, vida viver  | Vida curando vida

Meu texto produzido em 2019 falava sobre as feridas abertas na igreja brasileira desde a eleição de 2018. Eu não podia imaginar como os anos de 2020 e 2021 trariam ainda mais feridas a todos nós. Ninguém podia. Apesar de não esperarmos, todos nós tivemos que enfrentar as dificuldades trazidas pelos dois últimos anos, alguns com mais, outros com menos feridas, e a verdade é que estamos todos cansados e machucados. Muitos de nós foram feridos por suas próprias comunidades de fé, líderes, irmãos.

Sei que muitos irmãos se encontram hoje desesperançosos, perdidos, entristecidos e machucados. Eu queria saber como respondê-los, assim como aos meus próprios anseios e angústias, mas neste momento eu não sei. Para cada um de nós, deixo as palavras de Jesus, que nos inspira a continuar caminhando. “Venham a mim todos vocês que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. Tomem sobre vocês o meu jugo. Deixem que eu lhes ensine, pois sou manso e humilde de coração, e encontrarão descanso para a alma. Meu jugo é fácil de carregar, e o fardo que lhes dou é leve”. | Mateus 11:28-30

Além das palavras de Jesus, lembro-me das palavras de Bebeto Araújo, no Podcrent “Desigualdade social”. Bebeto nos lembra e exorta de que Jesus não nos autoriza a desistir da Igreja. Essa fala dele me atormenta e persegue desde então. Já estive muitas vezes à beira de desistir. Já me vi querendo abandonar a vida comunitária de fé. E todas as vezes, desde então, a fala do Bebeto ecoa em minha mente. Tento encarar o permanecer na igreja como resistência, como forma de impedir que o mal vença nas relações cotidianas, como recusa a aceitar que pouco temos de Jesus dentro das igrejas, além de reconhecer que se todos aqueles que buscam fazer diferente forem embora, nunca haverá mudança.

Nesse sentido, ouvir a música da campanha da IBAB me fez pensar que só podemos encontrar cura vivendo em comunidade. Não há como indivíduos isolados salvarem a si mesmos. Todos nós temos feridas que precisam ser tratadas, e o tratamento está na comunidade e na vivência com os irmãos e com Cristo. Por pior que esteja o seu momento, o convido a não se sentir sozinho. Há muitos náufragos nesse mar, e Cristo é nossa tábua de salvação, porém precisamos nos unir para fazer dela uma jangada. Furioso como o mar e bondoso como a chuva, Deus se faz em nossas vidas, e a vida é amar, cuidar, plantar, colher, servir, comer, partir e viver.

Que o amor e paz de Jesus de Nazaré alcance a cada um de nós, em nossas dores, angústias e medos. Que possamos encontrar comunidades de fé (físicas, virtuais, grandes, pequenas, institucionais, relacionais e pessoais) e que o amor de Cristo gere amor, fé e esperança em todos nós. Que nossas feridas sejam limpas e tratadas por Cristo, em comunidade.

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