O que floresce em nós?

Foto de Ipê amarelo florido, com o chão coberto de flores

Todos os anos, a época da florada do Ipê Amarelo é uma das minhas favoritas. Eu amo o contraste entre as flores, vivas e claras, com o tronco e galhos escuros, tão característicos dessa árvore. Neste ano, estou perdendo essa florada. Já perdi a florada das cerejeiras, que trazem uma leveza linda quando estão fartas nas árvores, mas são bonitas também cobrindo o chão.

Eu, assim como todo mundo (creio eu), já cansei de ficar em casa. Já chorei de saudade de amigos, parentes e de meus alunos. Já quis respirar o ar lá fora sem máscara e sem medo. Mesmo assim, permaneço em casa desde 20 de março deste ano. As poucas vezes que saí foram para ir ao mercado, buscar encomendas na portaria, comprar comida. Em duas vezes, nós fomos até a nossa hamburgueria favorita, pedimos comida e comemos no carro, com amigos no carro ao lado em uma vez, e parte da família na outra.

Eu já chorei de raiva desse governo. Eu já chorei de raiva de amigos e conhecidos que estão passeando como se eles fossem imunes ao vírus, às regras e ao bom senso. Já chorei, clamando a Deus por misericórdia pelo povo desse país. Chorei pelo preço dos alimentos, pelas queimadas de nossos ecossistemas. Chorar orando (ou orar chorando) é algo que alivia o coração, que me dá aquele novo fôlego, nem que seja para viver as próximas 24 horas trancada dentro de casa.

Confesso, já pensei várias vezes em tacar o foda-se e voltar a visitar amigos e família, afinal, todos estão fazendo. Já me questionei incontáveis vezes se nós estamos sendo rígidos demais, fazendo aquilo que a OMS nos pediu para fazer, e nossos prefeitos e governadores meio que tentaram (enquanto o presidente só falou bosta sobre a pandemia). Mas, depois de uns 5 minutos de raiva total, respiro novamente e lembro que, como diria toda mãe, “eu não sou todo mundo”. Lembro que neste momento, há o certo e o fácil a ser feito. E todo dia, tenho tentado fazer o certo. Dumbledore já havia nos avisado sobre momentos assim. Cristo também.

Enquanto penso e escrevo cada palavra deste texto, choro. De cansaço, de medo, de desespero. Mas, as horas mais sombrias são também aquelas que nos fazem provar os limites de nossa fé. E assim, peço a Deus todos os dias que Ele aumente a minha. A provação é a mãe da esperança, como diz Estevão Queiroga. Que a esperança dos céus seja instilada em nossos corações pelo Espírito Santo, e que nós possamos fazer o certo por nos preocuparmos conosco e com os outros ao nosso redor. Que nós possamos nos arrepender de fazer o errado, mesmo quando ele parece nos fazer bem.

A você, que tem realmente levado o isolamento a sério, fica o meu abraço.

A você, que fez bobagem, mas se arrependeu, obrigada por repensar sua postura.

A você, que permanece egoísta e pensando apenas nos seus desejos, que Deus traga arrependimento pra ti.

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