Sofrimento de Pai pra Filho | Ampulheta 28

Meu nome é Cristiano Fiori Zioli e hoje eu vou falar sobre o tema Sofrimento de Pai pra Filho.

O sofrimento humano sempre foi tema de palestras, seminários, teses de mestrado e de doutorado. Sempre houve essa busca no sentido de entendê-lo, melhor, dominá-lo. Sim, nós queremos dominar o sofrimento para não sofrer. Porém, só se entende o sofrimento sofrendo. Não há outro caminho.

Durante esse tempo de U.T.I. dos meus meninos, o sofrimento pra mim traz um significado novo, profundo e muito significativo. Deixá-los em suas incubadoras e voltar pra casa não faz nenhum sentido pra nós. E repetir a rotina diariamente, além de exaustante, é um contato com o desconhecido; pode ser hoje como pode não ser.

Vejo meus meninos também exaustos, doloridos. A incubadora está ficando pequena, a sonda está incomodando mais que o necessário, os bracinhos inchados por conta do soro e da nutrição necessários. O sofrimento suga seu senso de julgamento; você não sabe discernir mais o que é importante e o que não é. Vejo o choro deles, como uma reclamação de algo que está vindo, de uma maneira extremamente incômoda e dolorosa, para o bem deles.

Percebi que o sofrimento é parte essencial da vida. Não há crescimento sem dor, sem perda, sem deixar algo pra trás. Um dia, eles saíram do ventre da minha esposa, e isso causou dor a ela e a eles. Vi quando eles nasceram e a dificuldade em respirar nesse novo ambiente. Como o toque gelado dos dedos do pai desperta já atos de defesa como o retrair do braço!

O choro deles durante qualquer que seja o procedimento é torturante. É o pedido deles ecoando dentro de mim um outro pedido de um Filho dizendo: Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste? Estou de mãos atadas, não porque não posso reagir, mas porque sei aquilo será o melhor pra eles naquele momento e não posso ferir a caminho da cura. A cura do mundo passou pelo choro do Filho! Seja qual for o procedimento, também me lembra que é necessário para eles desmamarem daquela situação, citando aqui Russel Shedd, em seus últimos dias de vida. Os sofrimentos são procedimentos de Deus para nos desmamar do mundo, das necessidades dessa terra e já nos preparando para o futuro, para fora do casulo, para fora da incubadora.

Sei conceber um Deus que chora e que sente não poder intervir no choro do filho. Há momentos que, sim, os pais intervém, protegem, assopram, beijam, afagam. Mas há outros, e esses são os mais tensos, que o certo é ficar afastado e deixar apertarem o bracinho, espetarem a veia, colocarem a sonda, atarem o respirador. Lembro que nesses momentos o máximo que digo a eles, sem os tocar, é que estou ali. E, de fato, estou. Eles não me vêem, não têm certeza, não sentem um toque que seja, mas estou ali. Talvez o choro deles faça minha voz ficar mais fraca e inaudível, mas insisto e não canso de dizer que estou ali. Não me canso de dizer e de estar.

Uma coisa é protegê-los de ataques que são para a destruição e para o prejuízo deles. Outra coisa é permitir a realização de processos de dor que encaminham para uma melhora de percepção da vida e do que desejo pra eles. A U.T.I. não é um ambiente ideal, mas é o que eles tem pra agora. A Terra não é um ambiente ideal, mas é o que temos pra agora. O sofrimento passa justamente por esse caminho de transformar um lugar ideal em real. A U.T.I. é pra ser um lugar de passagem, de mediação entre aquele mundo minúsculo e esse mundo imenso. A ideia não é ficar ali; e nem a nossa de ficar aqui. Sofrer é parte do caminho que nos leva pra fora da incubadora.

Há forças que nos iludem a ficar por aqui ou pelo menos dizer que aqui é o máximo da vida! Que sofrer nada mais é que uma consequência de más decisões e, quem sabe, castigo divino. As pessoas confundem castigo com disciplina. E isso é um erro grave demais! Castigo demanda punição, disciplina busca orientação. Jogar a carga da punição nas costas de quem já está sofrendo é ou falta de entendimento ou maldade pura mesmo! E disciplina, às vezes, não tem a ver com culpa. Tem a ver apenas com um acerto de direção, uma correção no propósito da vida. Disciplina pode ser um procedimento dolorido, mas assim que passa a dor, fica o tratamento.

Sofrer é um privilégio de quem quer a vida por inteira, e não por partes. Quer a vida vivida com integridade, e não com miragens. Sofrer é pra quem quer ser tratado, sem saber como vai ser o tratamento, porque confia no médico. Pra nascer, a gente perde o útero. Pra andar, a gente se machuca. Pra andar de bicicleta, a gente acaba se ralando. Pra amar, a gente acaba se entregando. Sofrimento é quem quer viver sem máscaras ou desculpas. A gente engatinha, depois anda, mas não perde o jeito de engatinhar. A gente anda, depois corre, mas não perde o jeito de andar. Sofrimento é pra quem quer o céu, sem perder o jeito com a Terra!

PARTICIPANTES:
– Cristiano Fiori Zioli

COISAS ÚTEIS:
– Duração: 07m13s
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