Olhos Apaixonados #PostDoLeitor

Mais um ótimo texto do leitor/convidado/amigo/queridão mais frequente aqui nos programas da Crentassos Produções Subversivas. O inigualável Cristiano Fiori.

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São os olhos! Se existe um órgão no corpo humano onde se concentra a verdade de um sentimento é o olho. Uma das expectativas que nós tínhamos como casal era ver os olhos dos nossos filhos. Quando recém-nascidos, os olhos ficam mais fechados que abertos, ainda mais em se tratando de prematuros. Você fica imaginando a cor, a forma, se eles iam te reconhecer, se nosso cheiro indicaria que somos os pais e, pelos olhos, eles saberiam quem somos. Enfim, era uma ansiedade atrás da outra.

Quando, enfim, eles abriram os olhos pela primeira vez, parecíamos dois malucos chamando a atenção deles. A gente se perguntava o que eles estavam vendo. Será que eram sombras? Eles sabem que somos seus pais? E quando fôssemos embora da UTI neo natal, eles se esqueceriam de nós? Eram mais perguntas que respostas. E o é até hoje, se me permitem dizer.

Inevitável Deus sussurrar aos meus ouvidos princípios eternos; pelo menos três! O primeiro princípio sussurrado foi o do PRIMEIRO AMOR. É o amor livre, sem condições, puro. Alguém que te olha assim, não pede nada de você. Ele já deduz que tem tudo sem precisar pedir. É um amor que se satisfaz com a presença, e não com o que a presença pode causar. É significativo demais quando eles acordam e te olham! O choro pára, o resmungo cessa, e tudo se transforma em festa. Nada mais é mais importante que você! Primeiro amor, pra mim, é quando olho pra Deus e me satisfaço Nele e não naquilo que Ele pode fazer por mim ou me dar! Cair desse amor é justamente quando ponho condições, razões, práticas que justifiquem eu ser o alvo dele. Não! Não há necessidade disso mais! Ele está, e isso é suficiente! O Primeiro Amor me faz ver Deus, mesmo não entendendo se é Ele mesmo! Vejo meus filhos me olhando, e fico pensando se eles sabem quem eu sou. Talvez sim, talvez não completamente! Mas eu não me importo com isso. Fico contente com o fato da possibilidade que eu tenho de me revelar a eles com o tempo. Um dia eles me reconheceram como pai. Porém, antes eu já os tinha como filhos! E isso faz toda a diferença. Somos eu e minha esposa que os sustenta. Não importa se eles veem isso ou não. A verdade é que fazemos o que fazemos, porque somos quem somos; seus pais!

O segundo fator que encontrei nesses olhos apaixonados dos meus filhos foi que DEUS ESTÁ O TEMPO TODO CHAMANDO MINHA ATENÇÃO como um filho recém nascido que ainda não abriu os olhos totalmente. Um Deus incansável e, porque não dizer, teimoso; chamando a atenção de Seus filhos mesmo que eles não O reconheçam ainda totalmente como Pai. Se meus filhos me enxergam como sombras, um vulto que se mexe na frente deles; imagino que Deus seja assim pra gente. Não porque não Deus não se revela, mas porque não temos capacidade plena para vê-Lo na Sua totalidade. Meus filhos me verão como sou daqui um tempo. Eles vão crescer, e conforme eles crescem, eu também acabo crescendo. É o Aslam que explica para as crianças sobre estar maior para elas. Quanto mais elas o conheciam, maior ele ficava. Talvez seja assim em relação a Deus. Quanto mais O conhecemos, maior Ele fica! E Ele não pára de chamar a nossa atenção. Nas artes e nas relações; seja num filme ou num livro, na sala de casa com a família ou na mesa com os amigos. Não importa! Seja na cultura do outro, no jeito de ser da outra, é Deus chamando minha atenção enquanto meus olhos não suportam a Sua plenitude. Um dia O verei, face a face, sem sombras ou atalhos. Mas até lá, preciso ficar atento aos movimentos de chamada de atenção do Pai.

O terceiro, porém não último, princípio que encontro nesse olhar apaixonado que encontro nos meus filhos em relação a nós, seus pais, é a FIXAÇÃO. Pedro afunda, porque não fixou o olhar em Jesus. Caímos, porque insistimos olhar para outras coisas que chamam nossa atenção e achar que a vida se resume a elas. Podem até ser interessantes, com sabores e texturas diferentes que causam prazer e alegria. Mas, na realidade, quem concede esses estímulos somos nós, os pais. Quando eles fixam os olhos em mim, tenho prazer em dar a eles esses estímulos, porque gosto de ver suas reações, suas feições. Se houver, da parte deles, alguma resposta aos meus estímulos, já me dou por satisfeito. Em outras palavras, imagino que Deus Se sinta profundamente adorado quando comemos a comida, bebemos a bebida, ou quando nos sentimos bem com a roupa que temos reconhecendo que todas essas coisas e as demais são estímulos de um Deus que chama nossa atenção o tempo todo. Quando olhamos pra Ele, as coisas não precisam fazer sentido. Elas são suficientemente reais e plenas Nele. Meus filhos não se importam se a roupinha deles é de heróis ou de qualquer outra marca, uma mamadeira é suficiente para eles ficarem felizes. O fato deles não determinarem para mim o que querem, faz eu querer dar o melhor. E dar o melhor é saber o que os agrada. E para fazê-los felizes, eu e minha esposa queremos surpreendê-los. Agora imagina Deus.

*Texto original publicado no Medium do Cristiano Fiori.

Cristiano Fiori é pastor. Gosta de cinema, livros, games, música, espiritualidade e gente.

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