Tempestade #PostDoLeitor

Mais um ótimo texto do leitor/convidado/amigo/queridão mais frequente aqui nos programas da Crentassos Produções Subversivas. O inigualável Cristiano Fiori.

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Se me pedissem pra me definir, eu me definiria com uma palavra: tempestade! Ventos fortes, ondas gigantescas, gritos, pânico, luta pra viver e uma vontade imensa de desistir diante do impossível! Imagino um marinheiro segurando uma corda com seus braços, sangue saindo de suas mãos e braços. Sou o marinheiro e a tempestade que ele enfrenta. É como se eles não conseguissem viver sem o outro. Já ouvi dizer que bonança não faz marinheiro bom; a tempestade é que põe à prova as habilidades e até onde vai o fôlego.

Os céus estão violentos, nuvens densas, raios e trovões ecoam no horizonte. A chuva não pára, a escuridão no vasto mar faz a esperança minguar a cada onda, a cada tentativa do barco ir à pique. Está tudo desorganizado, tudo sendo jogado de um lado para o outro, sem Norte, sem saber pra onde ir ou se vai conseguir sair daquele redemoinho. Não se vê farol, não se estrelas, não tem rota. É a tempestade da vida. Nada está certo, e quanto mais os raios iluminam com seus flashes, na verdade, revela-se que a bagunça é generalizada.

No meio das ondas, o Príncipe da Paz vem ao meu encontro. Penso que vou morrer, penso que é mais uma ilusão da minha cabeça, mais uma fantasia de uma esperança que teima em me dizer que ainda pode ter jeito.

Ali, no meio da tempestade, no meio de mim mesmo, na fúria de tudo o que sou, não ouço voz nenhuma, só vejo um Homem andando sobre as águas como se elas obedecessem aos comandos Dele, ninando-O e levando-O onde Ele determina. Não há medo Nele, há na tempestade. Ela se intensifica à medida que Ele se aproxima de mim; fica mais forte. Não tem como competir com esse Homem. Mesmo não tendo pedido pra Ele aparecer, Ele vem, Ele aparece sem ser convidado. Mas penso: Por que não O convidei antes?

Um amor que rompe a tempestade e me encontra no meio dela, sendo a própria tempestade. Não, não consigo resistir, por mais que deseje. É um amor tão furioso quanto a tempestade. É capaz de me agarrar tão forte e acolher minha agressividade tão intensamente, permitindo eu esmurrar meu peito e minha face pra depois acariciar. A dor grita, berra. Não tem outro jeito de ser curado, talvez, se não passar pelo Vale da Sombra e da Morte, porque mesmo passando por lá, Ele me acompanha!

Queria uma vida mais simples, sem dor, sem crises, sem confrontos causados por mim ou em mim. Queria a cegueira, mas pra quem já experimentou a visão, difícil voltar a fechar os olhos. Pra quem já viu as cores, impossível ser incolor. Pra quem já viu a dor, impossível sair ileso! Ser quem se é é um ato de coragem, mas também pode ser suicida. Coragem, porque a autenticidade traz densidade. Não é uma cópia barata de um sistema de reproduções de manequins. Suicida, porque custa todo seu fôlego. Custa suas amizades, custa sua fala, custa seu olhar, custa sua intimidade, custa seu tempo, custa sua vida. Ser tempestade e encontrar o Príncipe da Paz é um ato diário de quem deseja um pouco de bonança no abraço.

Cristiano Fiori é pastor. Gosta de cinema, livros, games, música, espiritualidade e gente.

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