#Terminei | A guerra de Clara – Clara Kramer

a guerra de claraDaqueles livros em que durante a leitura, você leva vários socos no estômago.
Comprei este livro há um ano e me arrependo de ter demorado tanto tempo para lê-lo. Nele, somos apresentados à comunidade judaica de Zolkiew, na Polônia. Ali viviam aproximadamente 5 mil judeus em 1939. Entre estes muitos judeus, conhecemos Clara Schwarz e sua família.
As notas de imprensa na contracapa do livro o comparam ao Diário de Anne Frank, mas pra mim, os dois livros são totalmente diferentes. O Diário foi publicado como fora concebido: o diário de uma menina judia escondida dos nazistas. Nunca houve tempo para revisão ou narrativas paralelas às escritas por Anne no período que viveu no Anexo. O livro da Clara passou por um processo diferente, pois a autora sobreviveu ao nazismo e à Segunda Guerra Mundial e escreveu o livro muitas décadas depois dos acontecimentos (o livro foi publicado em 2008). Com estas diferenças na temporalidade da escrita dos livros, outras diferenças acabaram sendo sentidas entre os dois, e estas diferenças me fizeram amar A Guerra de Clara.
Neste livro, começamos a acompanhar as famílias Reizfeld-Schwarz desde setembro de 1939 – quando a Alemanha invade a Polônia. Acompanhamos o crescimento das crianças da família, os casamentos que ocorrem nestes anos, os nascimentos, as festas religiosas. A noção de comunidade judaica é muito bem impressa neste livro, o que difere muito do Diário de Anne Frank, pois neste livro vemos pouquíssimo do período pré-anexo na família Frank. Com esta diferença na escrita, a empatia e carinho pela família de Clara cresceu em mim naturalmente ao passo que avançava na leitura.
As pessoas mais próximas a mim sabem que eu admiro demais a cultura e religiosidade judaica. Sempre admirei as festas, a simbologia por trás de cada ato, de cada palavra, e Clara Kramer me trouxe muito da intimidade das comunidades judaicas em seu livro e serei sempre grata por – apesar de ter muita dor a narrar – ela ter dividido os bons momentos em família e comunidade conosco.
Apesar de a Alemanha ter invadido a Polônia em 1939, até 1941 a cidade de Clara fica sob domínio soviético, quando os alemães tomam a cidade. Embora a vida dos judeus sob o domínio soviético já estivesse ruim, ela só piora com a chegada dos alemães. A cada nova morte que Clara descobre e pranteia com seus familiares, eu chorava também. Houve momentos, (um em especial, mas que não contarei pois ele só faz sentido em toda sua força dentro do livro) que comecei a soluçar de tanto chorar. O Jonatha parou o que estava fazendo para me acalmar. Depois de calma, expliquei e li o trecho para ele, e antes de terminar a leitura mal conseguia falar, pois estava em lágrimas de novo.
O livro tem uma escrita boa, que flui, mas nunca leve. É impressionante que embora eu saiba muito sobre o Holocausto, já tenha lido outras narrativas, cada nova história é A história. É viver tudo aquilo ao lado da outra pessoa. Este livro, com certeza, é uma das narrativas do Holocausto que merece virar um clássico. É lindo e triste, como todos os outros. Recomendo.
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