Graça e o pecado

Talvez a gente não entenda a dimensão daquilo que Paulo fala quando defende a graça perante o pecado. Paulo gasta uns bons capítulos da sua carta os romanos fazendo algo que eu chamo de defesa da graça onde ele pede encarecidamente que se abra mão da vida passada, comandada pelo pecado e pela Lei, pra que se viva da graça, dada por Jesus em sua morte e ressurreição.

O que eu acho que talvez a gente não entende é dimensão dessas duas palavrinhas que ele coloca: a graça e o pecado. A graça nos liberta da morte que nos foi dada a partir do momento em que o pecado entrou no mundo. A graça tem essa força libertadora de tirar qualquer amarra, qualquer opressão, qualquer situação que destrói nosso ser e ainda pode reconstruir tudo aquilo que destruído pelo pecado; a graça tem o poder reparador de reviver aquilo que já há muito tempo não se manifesta dentro de nós: o estômago cheio, um teto, água limpa, uma escola que educa, um emprego, uma família que dá apoio, a opção de poder viver e de sair de um círculo vicioso, a capacidade viver da forma como sonhamos, viver sem esse pensamento que de vez em quando vem e diz Não é assim que as coisas eram pra ser.

A graça tem a capacidade de fazer renascer o riso leve, a brincadeira infantil, o gosto de criar, de abrir nossos olhos pra beleza divina que grita a nossa volta, de sentir o sabor dos alimentos, de saborear os presentes pequenos, de se alegrar com coisa pouca, de viver cada dia e cada momento de cada vez, de se deixar encher de felicidade com o simples fato de estar vivo. A graça restaura nossa humanidade, ela nos traz de novo pra onde Deus nos quer, de forma gentil e cavalheiresca. A graça nos põe de volta em nosso lugar. Essa é a graça.

E o pecado? Bem, o pecado é bem mais fácil de conseguir mensurar, exige menos parágrafos, basta pegar tudo aquilo que você sente falta quanto está longe da graça, o pecado é essa força devastadora que tira tudo o que é bom e te escraviza naquilo que devasta a vida.

Kyrie eleison

A imagem que ilustra esse post é a Vênus de Milo esculpida por Michelangelo. Vênus, deusa da beleza na mitogia latina, pode ser uma das interpretações da graça que dá cor e beleza à vida.

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