Shaw e a teoria de Raskolnikóv

Na minha sala, enquanto esperava meu pai chegar pra gente ir num aniversário dum conhecido nosso, estavam Raskolnikóv, Razumikihn e Porfiri Pietrovitch — Zamiotov estava ali no canto da sala também, mas quase não falava nada. Os quatro são personagens, de Fiodor Dostoievsky, do livro Crime e Castigo. Raskolnikóv, incitado por Porfiri, discorria sobre sua teoria dos homens ordinários e extra-ordinários. A ideia é simples (e cabível de ser aprofundada): o mundo se divide em duas categorias, os ordinários e os extra-ordinários; de acordo com Raskolnikóv os extra-ordinários tem o direito de infringir a lei, alguns não só tem o direito como devem, tamanha a sua contribuição a humanidade. Porém, como explica Raskolnikóv no decorrer da conversa, isso não quer dizer que eles necessitam fazer uso desse direito, talvez alguns nem precisem. Muito desses extra-ordinários por excelência vão descumprir a lei pois trazem uma nova lei, ou uma novidade, e para que essa nova lei ou novidade se instaure é preciso que a antiga lei ou o antigo fique para trás e isso em si é uma ruptura com a antiga lei ou com os antigos paradigmas.

George Bernard Shaw, que nem personagem de Dostoievsky é, aliás é escritor assim como Fiodor, chega de metido na conversa e adiciona com uma sutileza típica da Irlanda seu pensamento pra lá de mal visto — mas que faz completo sentido — que Jesus Cristo é um merecedor da cruz e é culpado por crimes hediondos, atentados a nossa cultura e estilo de vida, completamente contra tudo o que se conhece como sociedade e civilização.

Raskolnikóv, olhando por baixo e com certa naturalidade como quem fala de um jogo de futebol concorda que Jesus Cristo seja um desses extra-ordinários e que, sim, foi um grande arruaceiro por onde ele passou, porém, diferente de todos os outros que vieram antes e depois dele, até onde se sabe, nunca descumpriu uma única vírgula da lei que pregava. Jesus, não trazia uma nova lei que depreciasse a lei de sua atualidade, Jesus cumpriu uma lei que sempre existiu e sua novidade nada tem de novo, a não ser o fato de que ninguém nunca quis escutá-la, muito menos vivê-la.

 

 

A anedota acima é um esboço, algo que pretendo aprofundar, mas decidi, mesmo assim, colocá-la a juízo de todos.

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