Um mudo muda o mundo

Apesar de termos duas orelhas e apenas uma boca, não sobram dúvidas de que ela, a boca, é muito mais apreciada por nós como instrumento de comunicação do que orelhas. Falamos. Falamos muito sobre tudo. Sobre todos. Falamos do que o coração está cheio e se não tiver ninguém para ouvir, falamos sozinhos, andando pelas ruas, gesticulando como loucos.

Se oramos, falamos mais do que ouvimos. Temos pressa de partir para uma próxima conversa, ou monólogo. Deus é o maior espectador dos monólogos humanos. Nossas rezas nada mais são que repetições de letras, juntas, sem espaços silenciosos. O silêncio incomoda. Se duvida, lembre-se daqueles momentos eternos no elevador com pessoas que você não conhece…

Lembrei da letra de uma música que Cássil Eller gravou: “Palavras apenas, palavras pequenas, palavras, momentos… Palavras, palavras, palavras, palavras ao vento” Mas se não houvessem palavras, o que faríamos para demostrar nossas intenções? E se Roberto Carlos não tivesse cantado “Todos estão surdos”, porque todos estivessem mudos? Fiquei pensando no livro (ou filme) “Ensaio sobre a cegueira” de Saramago. Como a cegueira aproximou as pessoas! Sim pois, se você nasce sem algo, jamais sentirá falta.. mas ter e depois perder algo é diferente. Se fica vulnerável, dependente do outro. Será que se nos tornássemos mudos, mudaríamos nosso discurso?

Segundo a Bíblia, no evangelho de João, o verbo se fez carne! Ora, se até o próprio verbo Santo de Deus, teve que se metamorfosear em carne, para ser, digamos, influente na terra, o que se dirá de nossos verbos! Que nosso verbo se faça gesto! Que palavras sejam passos. Que discursos sejam lembranças de um tempo omisso. Amor sem atitude é só palavra. E a única força que a palavra pode ter, é o gesto que a acompanha.

Fiquei imaginando uma igreja muda. Ninguém mais aguenta igrejas falantes. Mas já pensou uma igreja silenciosa? Para poder expressar seu credos, teria que sair pelas ruas e fazer coisas. Amar, servir, abraçar, andar junto, perdoar, sofrer com, ensinar, proclamar o Reino…. Palavras vívidas no silêncio de atitudes.

Claro que ainda haveriam aqueles que fariam, não por amor mas por obrigação ou para enganar. Mas ainda sim, agir é muito mais útil do que falar. C.S.Lewis certa vez disse que se você não ama, comece a agir como se amasse que logo em breve, passará a amar de verdade. Também teriam esses que escrevem e muitos enganariam olhos descuidados… mas o verbo encarnado veio para curar a cegueira do mundo. Porque palavras impressas podem ser poderosas, mas jamais serão maiores que homens as pondo em prática.

Chegou a nossa hora! chega de falar sobre mudança. Temos que mudar. Emudecer. O mundo precisa ouvir o silêncio de nossos atos. Eles serão a voz do Cristo que morreu calado na cruz por nós. Eles serão o verbo ressurreto encarnado. E nós o livro ambulante, vivo, onde essas palavras iluminam os passos daqueles que calam para falarem mais alto que palavras!

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